A pouco mais de um mês de Jeroen Djisselbloem deixar o cargo de presidente do Eurogrupo, os candidatos à sua sucessão começam a mostrar o jogo. O ministro português das Finanças, Mário Centeno, tem boas hipóteses de ser escolhido, mas os rivais são poderosos e não vão dar-lhe tréguas.
Os critérios para a escolha do líder dos ministros das Finanças da zona euro não estão definidos, mas a manutenção dos equilíbrios na União Europeia aponta para a eleição de um socialista, já que o Partido Popular Europeu (de direita) detém três dos quatro lugares de topo na UE – presidências do Comissão Europeia, do Conselho Europeu e do Parlamento Europeu. É aqui que poderá residir a principal vantagem de Mário Centeno que, como notou recentemente o Politico, “pertence ao mais bem-sucedido governo socialista europeu e é de um país pequeno.”
Centeno tem sido elogiado pela redução do défice orçamental – no próximo ano, a meta é de 1% do PIB – e não se tem desviado da rota traçada por si próprio. Tirou Portugal do Procedimento por Défices Excessivos, com orçamentos negociados com os partidos de esquerda, e foi por isso elogiado pelo ex-ministro alemão das Finanças, que lhe chamou o “Ronaldo do Ecofin”.
Os argumentos contra a sua candidatura são igualmente fortes. Ainda recentemente Centeno ouviu, por parte do Eurogrupo e da Comissão Europeia, alertas vários sobre o crescimento da despesa no próximo ano. Embora as dúvidas da Comissão Europeia sobre o cumprimentos das metas orçamentais não sejam uma novidade, Bruxelas voltou a pedir, há escassos dias, explicações adicionais sobre a proposta orçamental para 2018.
Além disso, Portugal saiu há apenas três anos de um duríssimo programa de ajustamento económico-financeiro. Nada com o qual não possa enfrentar os candidatos italiano e francês, mas certamente uma desvantagem perante os candidatos do norte e centro da Europa, mais disciplinados em matéria de despesa pública e muito menos endividados. Observadores em Bruxelas criticam-lhe ainda o facto de passar muitas vezes despercebido nos debates internos do Eurogrupo, sem mostrar posições firmes. O seu passado de alto funcionário do Banco de Portugal, sem experiência política antes da entrada para o atual Governo, também não ajuda a conquistar o voto dos seus pares.
Mas, apesar de não liderar a lista dos favoritos, Centeno conquistou nos últimos dias o importante apoio da Espanha, cujo ministro das Finanças, Luis de Guindos, desistiu da corrida ao lugar de Djisselbloem para se posicionar para a substituição de Vítor Constâncio no cargo de vice-presidente do Banco Central Europeu, cujo mandato termina em 2018.
A escolha do novo presidente do Eurogrupo deverá ser feita a 4 de dezembro, na próxima reunião do conselho. No próximo dia 20, as candidaturas deverão estar todas formalizadas. Até ao momento, são estes os rivais conhecidos de Mário Centeno:
PETER KAZIMIR, Eslováquia
Também membro da família de centro-esquerda, o eslovaco Peter Kazimir pode marcar pontos à direita de Centeno por causa das suas posições habitualmente duras contra a Grécia – que têm soado como música celestial aos ouvidos do antigo ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble (substituído por um dos seus antigos secretários de Estado até à nomeação do novo Governo na Alemanha). Com bons resultados orçamentais para exibir – a economia vai crescer perto de 4% em 2018, o défice cairá para 1% do PIB e a dívida não ultrapassará 50% do PIB – tem contra si o facto de ser um membro relativamente recente da zona euro, à qual aderiu em 2009. E também de ser demasiado identificado com a linha ortodoxa de Djisselbloem.
DANA REIZNIECE-OZOLA, Letónia
É a única mulher do grupo de candidatos, mas não é apontada como favorita pela imprensa internacional. Tem apenas 35 anos e escassa experiência política. É membro dos Verdes, ministra das Finanças desde fevereiro de 2006 e, antes, tinha exercido funções de ministra da Economia durante pouco mais de um ano. Mas tem a seu favor uma carreira internacional sólida, construída no Banco Europeu de Investimento, Mecanismo Europeu de Estabilidade, Banco Europeu para a Reconstrução e Desenvolvimento e Banco Mundial.
BRUNO LE MAIRE, França
O ministro centrista de Emmanuel Macron é um dos candidatos mais fortes ao Eurogrupo, bastando-lhe para isso ser francês. Mas a vantagem pode transformar-se numa desvantagem nesta corrida. Embora a França esteja a dar um contributo positivo para as grandes questões da zona euro, as contas públicas do País estão longe de atingir o equilíbrio. O défice esperado para 2018 é de 2,9% do PIB – o que é uma novidade, já que nos últimos anos a França tem ultrapassado sistematicamente a meta dos 3%.
PIERRE GRAMEGNA, Luxemburgo
É liberal, é experiente politicamente e, embora oriundo de um país pequeno, vem de um dos parceiros que têm maior peso na UE. Mas o facto de a presidência da Comissão Europeia ser ocupada por um luxemburguês – Jean-Claude Juncker – retira-lhe hipóteses de ser bem sucedido.
PIER CARLO PADOAN, Itália
O socialista até é um dos membros mais influentes do Eurogrupo, mas ficou conhecido por se opor à rigidez da política orçamental europeia e, de certa maneira, fazer frente à ortodoxia alemã. E o estado das finanças públicas italianas também não favorece a sua eleição, com uma dívida que no final do próximo ano ainda estará acima de 130% do PIB. Além disso, há já dois italianos em lugares de topo da UE, como o Banco Central Europeu (liderado por Mario Draghi) e o Parlamento Europeu (presidido por Antonio Tajani).
E Jeroen Djisselbloem? O polémico holandês, que em tempos acusou os países do Sul de gastarem “todo o dinheiro em copos e mulheres”, abandonou o cargo de ministro das Finanças após a humilhante derrota dos trabalhistas nas últimas eleições no seu País. Nunca escondeu a vontade de continuar como presidente do Eurogrupo, lugar que ocupa desde 2013, mas a sua pretensão não foi acolhida, preparando-se agora para deixar o cargo em janeiro. O seu futuro passará por um lugar de consultor no Mecanismo Europeu de Estabilidade, liderado pelo alemão Klaus Regling.