Para Brad Parscale, que falava na Web Summit, a decorrer em Lisboa, as redes sociais ajudaram a campanha do atual presidente norte-americano a “selecionar de forma muito precisa os eleitores que estavam recetivos à mensagem” de Donald Trump.
“Tivemos que delimitar muito bem o universo que queríamos atingir, as pessoas que estavam recetivas à mensagem de Donald Trump. E chegámos à conclusão que essas pessoas estavam no Facebook, até porque há cada vez menos espetadores de televisão (…) Os dados mostraram-nos a direção em que a seta tinha de ser apontada”, afirmou, num painel sobre as mudanças nas campanhas eleitorais na era do digital.
Por outro lado, prosseguiu, as redes sociais permitiram à campanha de Trump contornar a circunstância de disporem de um orçamento consideravelmente inferior ao da rival democrata, Hillary Clinton.
“Tínhamos os avós a controlar os seus netos, os jovens a falar com amigos da escola. E o custo é tão baixo, consegue-se atingir milhões de potenciais eleitores por uma fração do custo. Usar o Facebook foi a melhor forma de contornar a desvantagem de termos menos dinheiro para a campanha do que a candidata democrata”, afirmou.
Brad Parscale diferenciou, no entanto, as redes sociais em função da sua utilidade para a campanha de Donald Trump.
“As pessoas às vezes confundem as coisas. Trump usou o ´Twitter´ para falar para a América e para gerar media. O ´Facebook´ não foi usado para colocar anúncios que se traduzissem em votos, para mudar opiniões, foi sobretudo usado para pagar as contas, porque foi aí que a maior parte do dinheiro foi gerado. Foram esses os dois motores. As pessoas confundem as coisas”, explicou.
Também presente no painel, o eurodeputado e um dos principais “rostos” do “sim” ao à saída do Reuni Unido da União Europeia Nigel Farage considerou que “o Brexit nunca teria acontecido sem as redes sociais”.
“O Brexit aconteceu porque houve um partido, o UKIP, que de repente se tornou tão relevante que começou a assustar o primeiro-ministro. Mas o UKIP não se teria tornado um partido tão importante se não tivesse sido o ´Youtube´. Eu ia a Estrasburgo todos os meses e os ´media´ tradicionais não queriam saber. Assim que começámos a usar o Youtube e a atingir audiências enormes, começámos a causar preocupação. Por isso sim, estamos onde estamos por causa das redes sociais”, disse.
Para Farage, a Europa ainda está a este respeito “muito atrás dos Estados Unidos”.
“A maior parte dos políticos europeus que conheci estão demasiado obcecados com a sua mensagem nos principais órgãos de comunicação social”, observou.
Mark Penn, presidente do ´The Stagwell Group´ considerou também que as redes sociais “são um aspeto de crescente importância nas eleições”.
“Há um fluxo de informação instantâneo que atinge todos, não apenas os que estavam a assistir a determinado programa na CNN a determinada hora. As eleições usam as redes sociais para trazer para o processo os eleitores que normalmente têm estado à margem do processo”, disse.
Mark Penn alertou também para a circunstância de o eleitorado se estar a tornar “cada vez mais idoso”.
“No Reino Unido, foi a geração mais idosa que decidiu o desfecho do referendo. Se recuarmos até aos anos 1960, os jovens era dois para um em relação aos eleitores com mais de 65 anos. Agora estão empatados e esse desequilíbrio vai acentuar-se. As pessoas mais idosas vão-se tornar cada vez mais importantes nas redes sociais”, comentou.
Trump deve usar Twiter o “máximo possível”
O responsável pela estratégia digital da campanha do presidente dos Estados Unidos disse hoje concordar que Donald Trump use a rede social Twitter “o máximo possível” porque esse é o melhor método para comunicar “diretamente com as pessoas”.
Brad Parscale está hoje a participar em diferentes painéis da Web Summit, em Lisboa, e esteve disponível para responder para uma curta conferência de imprensa com jornalistas portugueses.
Questionado sobre a utilização que o presidente norte-americano faz do Twitter, o especialista em comunicação disse que quer que ele use esta rede social “o máximo possível”, uma vez que acredita que “as pessoas querem ouvir os seus líderes”.
“Ele é o Presidente, a escolha é dele. Se é assim que ele sente, ele deve fazê-lo dessa maneira. Eu estou contente que ele ‘tweet’ e comunique diretamente com as pessoas.
Brad Parscale recorda a eleição de Trump, que aconteceu há um ano, como “um momento emocionante”.
“Pude estar com ele no palco naquela noite e ver o meu país andar para a frente. Continuo a achar que o plano de Trump vai ser uma coisa ótima para o país. Espero ter a possibilidade de ajudar a serem oito anos em vez de quatro”, antecipou.
Questionado sobre se vai trabalhar com o Trump numa próxima campanha, o responsável da estratégia digital foi perentório: “vai ter que lhe perguntar, mas sspero que sim”.
“Ele é o meu chefe, não sou eu o chefe dele. Espero que ele me telefone, mas se ele quiser enviar um tweet, por mim, tudo bem”, ironizou.
Sobre se este tinha sido o cargo mais importante que assumiu na vida, Parscale respondeu com uma pergunta: “Quem não quer jogar no Super Bowl?”.
“Fui abençoado e foi uma das melhores oportunidades da minha vida”, admitiu.
Interrogado sobre o possível contágio desta forma de fazer campanha a países como Portugal, Brad Parscale começou por responder que não é “um especialista em política portuguesa”, sendo esta a primeira viagem a Lisboa, “uma cidade muito bonita”.
“Eu imagino que a metodologia americana e a forma como se usou as redes sociais tenha um efeito no resto do mundo, mas todos os países são diferentes e as leis são diferentes. Imagino que a escala seja diferente também. Eu não sei nada sobre política portuguesa”, respondeu.