O BCP é dominado em 40% por capitais chineses e angolanos, o Santander Totta tem um acionista maioritário espanhol, o Novo Banco pode ser vendido, em breve, a fundos norte-americanos e o BPI foi alvo de uma OPA que colocou 84,5% do seu capital na posse do catalão Caixabank. É este o retrato dos quatro maiores bancos privados em Portugal.
Apesar dos manifestos em defesa dos centros de decisão, dos movimentos anti-espanholização da banca portuguesa e dos vetos (in)formais à entrada de acionistas não portugueses, a predominância do capital estrangeiro nos maiores bancos está longe de ser uma novidade. A exceção continua a ser Caixa Geral de Depósitos, que é 100% pública.
Agora, um dos maiores bancos nacionais vai ter, pela primeira vez, um presidente executivo (CEO) estrangeiro. Na sequência do reforço do Caixabank, e da saída da angolana Isabel dos Santos, o BPI anunciou que vai substituir Fernando Ulrich, presidente executivo desde 2004, pelo espanhol Pablo Forero, um madrileno de 62 anos. A transição terá lugar na assembleia geral marcada para 26 de abril, no mesmo dia em que Ulrich completará 65 anos.
Há muito que se esperava que a nomeação de um CEO estrangeiro – no caso, espanhol – tivesse lugar no banco Santander Totta, mas aquele que é o maior grupo bancário europeu optou sempre por colocar um português à frente da instituição.
Com efeito, o Totta & Açores foi o primeiro banco português cujo controlo passou para o exterior, em 2004. António Horta Osório, que já representava o Santander em Portugal, foi a escolha do grupo espanhol assim que o Totta foi adquirido. Seguiu-se Nuno Amado (hoje à frente do BCP) e, desde 2012, António Vieira Monteiro. Já o presidente não executivo (chairman) é o espanhol António Basagoiti Garcia-Tuñón, e o vice-presidente é outro espanhol, Enrique Garcia Candelas. Em 15 administradores, há quatro no Santander Totta que são espanhóis.
No BCP, cujo recente aumento de capital permitiu o aumento da participação da chinesa Fosun para 24% do total (e da Sonangol para 15,24%), o reforço de estrangeiros começou a seguir à guerra pelo controlo do banco. Ao primeiro presidente, Jorge Jardim Gonçalves, sucedeu Paulo Teixeira Pinto e, a este, Carlos Santos Ferreira, em 2008. Com a pacificação acionista, Nuno Amado trocou o Santander pelo cargo de CEO do BCP em 2012, onde se mantém até hoje. Em 22 administradores, três são de nacionalidade não portuguesa (dois angolanos e um chinês), mas a composição do conselho de administração do BCP ainda não reflete as mudanças acionistas do recente aumento de capital. Esperam-se, por isso, alterações muito em breve.
Depois da resolução do BES, em 2014, e do afastamento de Ricardo Salgado, o Novo Banco conheceu três presidentes, todos portugueses: Vítor Bento, Eduardo Stock da Cunha e António Ramalho. O último tomou posse a 1 de agosto de 2016. Depois de um primeiro falhanço, o Banco de Portugal tem estado a negociar a venda do banco com os fundos norte-americanos Apollo e Lone Star, desconhecendo-se ainda se, em caso de alienação, a liderança continuará a ser portuguesa.
Mas a tradição já não é o que era e o BPI vai ter um espanhol no comando. Depois de uma desgastante guerra entre acionistas, Fernando Ulrich passará a ser chairman do banco e cederá a cadeira do poder a Pablo Forero, quadro do banco catalão desde 2009, com uma carreira feita maioritariamente na banca de investimento. No futuro conselho de administração, 7 dos 18 elementos serão espanhóis (um dos quais em representação da alemã Allianz, que se mantém como acionista), e três deles terão assento na comissão executiva do banco.
Depois do BPI, qual será o próximo grande banco português a ter um presidente estrangeiro? Aceitam-se apostas…