Partilhamos rios, caminhos, fauna e flora. E, apesar de tantas vezes de costas voltadas, Portugal e Espanha parecem ter percebido a importância de uma aliança ibérica. Pelo menos, no que ao turismo diz respeito. Ontem, a Secretária de Estado do Turismo, Ana Mendes Godinho, aproveitou o arranque da FITUR – Feira Internacional de Turismo, que decorre em Madrid até dia 22, para firmar com a sua homóloga espanhola, Matilde Asián González, uma estratégia de promoção conjunta do destino ibérico, em mercados internacionais. Falamos de temas ou produtos de interesse comum, como o enoturismo do Douro/Duero, a fauna e a flora ibérica ou, aproveitando as comemorações do centenário das aparições, o entroncamento entre os caminhos de Fátima e de Santiago.
A agenda preenchida de reuniões de Ana Mendes Godinho durante a FITUR estendeu-se a companhias aéreas, operadores, imprensa internacional e investidores. “Há uma procura muito interessada por parte dos grupos hoteleiros e não querem só informação genérica, estão já numa fase de prospeção avançada para decisão de operações, porque querem efetivamente expandir para Portugal”, afirmou a Secretária de Estado do Turismo. Nomeadamente, curiosidade quanto ao programa Revive, que facultará concessões turísticas em património ao abandono ou sem utilização (a lista de 30 edifícios foi revelada em dezembro). “É um bom cartão de visita para quem queira investir em Portugal”, considera Luís Araújo, presidente do Turismo de Portugal. “Há um know-how em turismo, desde o software até ao mobiliário, o design, equipamentos operacionais de hotelaria, que é uma forma interessante de promover o país e aumentar as exportações.” Em fevereiro, irá arrancar um road show internacional para atração de investidores, que passará por destinos como China, Índia, Cuba, Estados Unidos e Brasil. Irá ainda ser criada, em princípio durante este primeiro semestre, uma plataforma onde serão divulgadas as diferentes oportunidades de investimento. “Em 2017 queremos muito alargar o espectro do turismo e aproveitar o bom momento que vive para mostrar que Portugal é um bom país, para investir, trabalhar, viver e estudar”, adiantou Ana Mendes Godinho.
O “chapéu” Portugal
Esta foi a maior presença portuguesa de sempre em feiras internacionais de turismo, reunindo sete regiões, 61 empresas e quatro startups num stand de localização privilegiada, logo à entrada de um dos pavilhões da FITUR. “Com uma grande diferença, não só temos as empresas, como damos visibilidade aos produtos que queremos promover, às experiências que podemos viver e aos eventos que vamos ter, para transformar Portugal num destino imperdível para os espanhóis em 2017”. Em destaque, para além do campo espiritual (nomeadamente, com a divulgação das primeiras imagens do filme de animação Fátima, alinhando os visitantes em fotografias com as personagens de cartão), está a promoção de Portugal como país de caminhos (para passeios a pé, de bicicleta ou a cavalo), de sabores (com provas de vinhos e iguarias a várias horas) e de cultura (com a apresentação do programa 365 Algarve). Aos visitantes, era proposto um inovador “guia emocional de viagem”, com uma leitura gráfica das ondas cerebrais a indicar qual o destino mais indicado para cada um, dos mais aventureiros aos mais relaxantes.
Recorde-se que os mais recentes indicadores do INE (de janeiro até novembro de 2016) revelam um crescimento do mercado espanhol, relativamente ao ano anterior, de 9,5 % em hóspedes (1,57 milhões) e de 9,1% (em dormidas (3,74 milhões). Curiosamente, os estudos de satisfação mostram que mais de 46% dos turistas espanhóis repetem a sua visita a Portugal e 100% viram as suas expectativas satisfeitas ou superadas. “Espanha é o nosso terceiro mercado mas podemos crescer muito mais”, acredita Ana Mendes Godinho. “Em 2016 fizemos uma aposta cirúrgica no mercado espanhol [a verba aumentou cerca de 30% e gastaram-se cerca de 4 milhões de euros], que teve um efeito muito rápido”, acrescenta. Um mercado de proximidade que poderá ajudar a reduzir a sazonalidade do turismo, nomeadamente no Algarve.
Não por acaso, a região do Turismo do Porto e Norte de Portugal (TPNP) convidou a sua congénere algarvia para uma união de forças na FITUR, com um stand vizinho (mas independente) do Turismo de Portugal. “Foram as duas regiões que, em 2016, mais se distinguiram em termos de crescimento, seja em número de dormidas, visitantes, proveitos e tempo de estadia”, sublinhou Melchior Moreira, presidente do TPNP. “Para vender bem o território, é preciso conhecê-lo bem e são as entidades regionais de turismo que melhor o trabalham”, entende Melchior Moreira. “O TP deveria garantir uma maior representação das regiões”, acrescenta Desidério Silva, presidente do Turismo do Algarve, “temos de transmitir e proporcionar a quem nos visita produtos diferenciados, mostrar um conjunto de valências que ali num metro de balcão [no stand do TP] não conseguiríamos fazer”. Estratégias que governantes e entidades regionais voltarão a discutir no final da FITUR. Debaixo ou fora do chapéu Portugal?