A partir de hoje e até sábado à noite, o Porto vai dar mais um passo no sentido de se tornar “um laboratório vivo do empreendedorismo europeu”. Conversa fiada? Parece. Isto de querer fazer da cidade “um local onde as pessoas são inspiradas por uma nova cultura de risco e integradas num ecossistema multicultural e internacional”, deixa qualquer um desconfiado.
Mas a autarquia quer transformar a cidade “num espaço tecnológico, inovador e criativo”, capaz de atrair estrangeiros, criar emprego, desenvolvimento económico, e dar escala internacional a uma série de start ups. Isto é o projeto Scale Up Porto, que esta semana será reforçado com o congresso europeu (Scale Up Europe) promovido pela EBAN, a maior rede europeia de business angels, que juntará no edifício do Palácio da Bolsa da cidade mais de 100 empreendedores e mais de duas centenas de investidores informais e particulares (assim denominados por oposição aos investidores institucionais).
De destacar, que cerca de 80% vêm de várias cidades europeias, para partilhar experiências e mostrar exemplos de como e onde as start ups podem obter financiamento ou aceder a mercados, de modo a ganharem força e poder para que cresçam rapidamente.
“Estamos numa fase em que é fundamental os europeus unirem-se e fazerem coisas à escala europeia”, disse à VISÃO Miguel Henriques, presidente da Fnab, a federação portuguesa de associações de business angels, parceiro da EBAN e organizador do congresso. “Para vencer na dimensão, temos de saber lançar projetos globais.”
Portugal concorrencial
Daí que hoje e amanhã, empreendedores portugueses possam “falar de igual para igual com investidores estrangeiros”, aprender com outras experiências e, sobretudo, “projetar à escala europeia e não apenas ao nível de uma cidade ou país”. Nos dois dias de congresso, com várias sessões paralelas, serão discutidas as novas plataformas de crowdfunding, oportunidades de investimento na África e Médio Oriente, ou o empreendedorismo no feminino. Alguns projetos serão também apresentados aos potenciais investidores, “validando ideias e potenciais negócios”.
“A fase que estamos a viver é muito crítica. A Europa está bastante mais atrasada e não tem a dinâmica dos americanos, apesar de haver bons projetos e bons investidores”, vaticina Miguel Henriques, também ele um business angel, fundador da portuense Invicta Angels. Desde logo porque, na sua opinião, há ainda uma grande divisão dos mercados e a língua a funcionar como barreira, acentuando desvantagens face aos EUA.
Mas Miguel Henriques, que anda nisto desde 1998, considera que Portugal “já consegue ser concorrencial” relativamente aos seus congéneres europeus. “Temos empresas interessantíssimas, com ideias e tecnologia, com uma visão mais estratégica do negócio, num sistema muito mais desenvolvido e em fase de consolidação.” De tal modo, que a Fnab “tem tido vários business angels europeus a registarem-se em Portugal”, atentos ao que aqui se passa e alargando o leque de possibilidades. Estima-se que haja entre 300 a 350 business angels no país.
Trabalhar big data em benefício da cidade
Também amanhã e sábado, o projeto Hackacity unirá Utreque (Holanda), Santander (Espanha) e Recife (Brasil) ao Porto numa maratona tecnológica de 24 horas non-stop. A iniciativa da empresa 7Graus, que tem por missão ajudar a melhorar a vida das pessoas, reunirá dezenas de equipas distribuídas pelas várias cidades envolvidas, em torno de um desafio: pegar em dados fornecidos pela Câmara Municipal do Porto e usá-los para desenvolver aplicações ou produtos que melhorem o quotidiano de quem usa a cidade.
Quem quiser ver como se pode usar big data ao serviço da comunidade é só ir espreitar o que se passa no Palácio das Artes. Os participantes terão ao seu dispor dados sobre mobilidade, turismo, ambiente e segurança, que serão apresentados na sessão de abertura. Depois, cada equipa – formada por programadores, designers, empresários e criativos – terá 24 horas para analisar esses dados e apresentar algo que contribua para o bem-estar da vida na cidade. O desafio é que cada um, mesmo os que estão na Holanda, em Espanha ou no Brasil, pense como um cidadão do Porto e arranje soluções para problemas detetados através da informação obtida.
E estes são duas das coisas mais visíveis a acontecer, que contribuirão certamente para que o Porto forme o tal “ecossistema” amigo do empreendedorismo e do investimento, que a ligarão a outros Scale Ups e que permitirão que algumas start ups chamem a atenção de investidores e ganhem escala internacional.