Durante décadas, a política do betão foi adotada por diversos governos como modelo de desenvolvimento porque se pensava que criava valor. Um estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS); coordenado por Alfredo Marvão Pereira e Rui Marvão Pereira, vem mostrar aquilo que já se suspeitava desde o início da crise: as infraestruturas básicas, como telecomunicações, eletricidade e gás, absorveram mais milhões de investimento público mas não geraram o retorno esperado. O mesmo se pode dizer sobre as autoestradas e as estradas municipais. Mas na ferrovia, nos portos, na saúde e na educação, onde os gastos foram menores, o investimento compensou.
O estudo parte da análise dos dados de mais de três décadas de investimento público em Portugal (1978-2011) para extrair conclusões em relação aos efeitos económicos do dinheiro aplicado pelo Estado em infraestruturas que, em média, representou 4,05% do PIB. A informação recolhida para este estudo vai ser disponibilizada aos investigadores em geral, numa vasta base de dados construída pela FFMS.
Depois de analisarem os impactos na economia, nas contas públicas, no emprego e na produtividade, os autores do estudo dizem que “os maiores efeitos de longo prazo no PIB” vêm do investimento em “ferrovias, portos, aeroportos, saúde, educação e telecomunicações”. Nestas áreas, “os efeitos no PIB são suficientemente grandes para sugerir que estes investimentos se pagaram por si mesmos, sob a forma de receitas fiscais adicionais no futuro”. Já os gastos públicos com estradas municipais, autoestradas, eletricidade e gás não geraram efeitos económicos “significativos ou relevantes”.
A aposta na educação teve também efeitos visíveis na criação de emprego, assim como a construção e modernização de aeroportos, portos (no norte e centro) e estradas municipais (no Alentejo e no Algarve) foram relevantes para a atração do investimento privado para determinadas regiões do País.
Contudo, a fatia maior do investimento ao longo das três décadas foi aplicada na eletricidade e no gás (14,4% do total nacional), embora, na década de 90, em vésperas da liberalização do mercado, as telecomunicações tivessem captado a maior fatia, com 16,1%. A rede nacional de estradas absorveu 12,5% dos fundos públicos, quase tanto como a educação, com 12,9% do total. A saúde ficou abaixo, com 10,8%, e a rede municipal de estradas com 9,2%.
Feitas as contas, as estradas nacionais e municipais absorveram mais dinheiro do que as autoestradas, que foram a bandeira de vários governos. Enquanto as autoestradas captaram 6,8% do investimento em infraestruturas – com a região centro a ser claramente favorecida, com 40% desse total -, as estradas nacionais receberam 12,1% e as municipais 9,6%.
Por último, a ferrovia e os portos representaram, respetivamente, 6,9% e 1,3% do investimento, com estas últimas infraestruturas a captarem apenas 15% do montante aplicado em ferrovia ou autoestradas.