“Marina Tabassum. Materiais, Movimentos e Arquitetura no Bangladesh” ficará patente no Museu de Arte Contemporânea/Centro Cultural de Belém, até 22 de setembro, com um conjunto de obras construídas desde 1995, uma delas apresentada na Bienal de Veneza de 2018, ano em que fez uma conferência em Lisboa.
A intensa simbiose com a natureza é uma das marcas do trabalho da arquiteta e pedagoga do Bangladesh, com ateliê fundado em 2005, em Daca, e que tem procurado estabelecer uma prática arquitetónica simultaneamente contemporânea e enraizada no lugar, indicaram os curadores.
“A maior parte do nosso trabalho é com a comunidade”, disse a arquiteta bengali durante uma visita para jornalistas na véspera da inauguração da exposição que conta com curadoria de André Tavares e Vera Simone Bader.
Em muitos dos seus projetos, a principal preocupação de Marina Tabassum vai para as populações que são forçadas a deslocar-se devido a inundações e tempestades, ou os milhares de refugiados que o seu país tem acolhido, vindos de Myanmar.
“Muitas pessoas perdem as suas casas devido às chuvas ou perdem os abrigos improvisados em incêndios”, contextualizou a arquiteta, quando mostrou, na exposição, um modelo em tamanho real de uma das casas que concebeu totalmente feita em bambu, um material local abundante, que torna as habitações bem arejadas, seguras e acessíveis, com custo reduzido.
Localizado na região onde os rios Ganges e Brahmaputra desaguam na Baía de Bengala, o Bangladesh é um país independente desde 1971, onde habitam mais de 150 milhões de pessoas, 20 milhões dos quais na capital.
O trabalho de Tabassum tornou-se reconhecido internacionalmente por usar ideias que aplicam os recursos naturais, explorando as suas características, e também estratégias de envolvimento das comunidades locais, cujas vidas são passadas perto de mais de 700 rios.
Uma das principais vantagens dos seus projetos é a de “realizar grandes transformações por meio de pequenas intervenções”, como sublinhou o curador André Tavares durante a visita pelo percurso expositivo, que reúne instalações, fotografias, vídeos e objetos do quotidiano destas populações.
A exposição possui legendas em português, inglês e bengali por opção da arquiteta, que disse saber da existência de uma importante comunidade do seu país em Portugal, “que ficará orgulhosa de ver a sua própria língua” na apresentação dos seus trabalhos.
Entre as obras apresentadas destacam-se respostas a problemas urgentes, como as condições de vida dos 1,2 milhões de refugiados rohingya, ou as transformações impostas pela subida do nível do mar, nomeadamente um modelo de casa com dois andares em que o piso térreo é feito de estacas que resistem às águas.
Na visita, a arquiteta contou que, no âmbito dos seus projetos, leva habitualmente os seus alunos universitários ao Bangladesh para falarem com as populações locais: “Nós contribuímos com as habitações e a população partilha a sua sabedoria”, disse, sobre aquela “troca essencial”.
Licenciada pela Universidade de Engenharia e Tecnologia do Bangladesh, Marina Tabassum é professora convidada da BRAC University desde 2005, em Daca, e lecionou também na Universidade do Texas, em Arlington, no outono de 2015, sendo atualmente professora na Universidade de Harvard.
Tabassum recebeu o prémio Aga Khan de Arquitetura de 2016 pelo seu projeto da mesquita de Bait ur Rouf, em Daca.
Também presente na visita, a curadora-chefe da Garagem-Sul, Mariana Pestana, que iniciou funções em março, escolhida por concurso internacional lançado em 2023, disse esperar que a exposição “abra um novo ciclo expositivo em que se cruzem a arquitetura e outras áreas disciplinares, alargado a outros públicos”.
“Esta exposição tem um caráter muito importante de responsabilidade social e de inclusão”, realçou a arquiteta recém-nomeada para o equipamento cultural, a par da curadora espanhola Núria Enguita, que assumirá em maio funções de diretora do MAC/CCB, também escolhida por concurso internacional.
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