Anaïs. A-na-ïs. Um nome que inspirou numerosas lendas de amor e literatura e um perfume da marca francesa Cacharel. Famosa pelos contos eróticos e pelo romance com Henry Miller, Anaïs Nin (1903-1977) foi uma artista da vida. E da vida fez um livro, um diário de cerca de trinta e cinco mil páginas, em cento e cinquenta volumes, do qual extraiu romances poéticos e contos. “À semelhança de Oscar Wilde”, disse, “ponho a minha arte no meu trabalho e o meu génio na minha vida… represento mil papéis diferentes.”
O título do primeiro romance, A Casa do Incesto, e algumas passagens de quatro contos dizem tudo: o señor Joaquín Nin y Castellanos, distinto compositor e pianista espanhol, seduziu a filha. É impossível prová-lo com toda a certeza, mas é um facto confirmado pelo seu comportamento subsequente, que se ajusta aos padrões clássicos da criança que foi seduzida. Nin só se lembrava de que ele era de uma crueldade sádica para os filhos, de que lhe dizia que era feia e de que a única prova de afeto que recebeu do pai antes de ele abandonar a família, tinha ela dez anos, foi quando posou nua para as suas fotografias: “Queria-me sempre nua. Só manifestava a sua admiração através da máquina fotográfica.” Aprendeu a procurar aprovação sexualmente. Posou para “inúmeras fotografias”, na prefiguração da nudez literária do diário. No primeiro diário de infância, colou um destes nus, aparentemente sem se dar conta de que a fotografia revelava um comportamento invulgar por parte do pai. Numa nota fragmentada de um diário posterior, escreve: “Culpa por expor o pai. Segredos. Necessidade de disfarces. Medo das consequências.”