Fernando Duarte, diretor artístico da Dança em Diálogos, produtora da obra, disse à agência Lusa que esta adaptação surgiu como um “passo natural” depois de, em 2020, ter sido feito um trabalho semelhante com “O Primo Basílio”, de Eça de Queiroz, num trabalho que visa incentivar a “relação da dança com outras artes, especialmente a literatura”.
“E nada melhor do que o ano do centenário [de José Saramago] para propormos uma adaptação, ou seja, uma forma de ler e criar uma imagem, uma corporificação, do romance em bailado, adaptando o ‘Memorial do Convento'”, afirmou Fernando Duarte, que partilha a direção artística da companhia com Solange Melo.
O coreógrafo congratulou-se por o projeto ter sido “bastante bem aceite” pela Fundação José Saramago, ao dar o seu “apoio institucional” e incluir a apresentação da obra na programação oficial do centenário do nascimento do escritor, o único português que venceu o prémio Nobel da Literatura.
Depois do Cineteatro Louletano (04 de junho), o bailado “Memorial do Convento” iniciará uma digressão, passando pelo Convento São Francisco, em Coimbra (10), pelo Teatro José Lúcio da Silva, em Leiria (15), pelo Cineteatro São Pedro, em Alcanena (17), pelo Centro Cultural Olga Cadaval, em Sintra (25), pelo Cineteatro João D’Oliva Monteiro, em Alcobaça (a determinar), pela Casa das Artes, em Famalicão (28 de outubro), e pelo teatro El Salinero, em Lanzarote (02 de julho), a ilha do arquipélago espanhol das Canárias onde José Saramago residiu.
“A obra em si, o romance original, é um monumento da língua portuguesa e da literatura nacional”, considerou Fernando Duarte, adiantando que estão presentes no espetáculo distintas “dimensões”, como a “coreográfica, em que os bailarinos, com o seu corpo, narram a história e transportam a emoção e o drama da narrativa original”.
Além da dança, está também presente a “dimensão cinematográfica”, na qual “o realizador Pedro Castanheira propõe trazer outros elementos e episódios” que se “cruzam” no romance, como o “casal principal, Baltasar e Blimunda”, a “edificação do convento” e os “pretextos para a sua construção” ou “o sonho do padre Bartolomeu Lourenço, que deseja voar e criar uma máquina que voo, uma Passarola”.
“Todas estas histórias e elementos que se cruzam estão também cruzados numa amálgama de dimensões especiais”, afirmou, frisando que a música tem a curadoria de Martim Sousa Tavares, os figurinos são do estilista José António Tenente e a cenografia de Pedro Crisóstomo, criando “uma série de elementos que tentam homenagear a ampla visão do mundo, do pensar e do saber que Saramago dá em cada um dos seus romances”.
O Cineteatro Louletano, o Teatro José Lúcio da Silva e a Casa das Artes são coprodutores do projeto, que também promoveu “uma residência artística em contexto escolar” com turmas do agrupamento de escolas Dom Dinis, em Quarteira.
“Isto permitiu que alunos do ensino regular, não do ensino artístico, estivessem durante uma semana a desenvolver trabalhos de criação e de encontro com a dança, ou de aproximação à dança, não para os ensinar a dançar, mas para lhes proporcionar uma outra ferramenta, uma outra perspetiva, do ponto de vista artístico, que pode ser útil na sua vida e no desenvolvimento de um espírito crítico, independente e criativo”, justificou.
Fernando Duarte sublinhou ainda vão estar “seis bailarinos em cena” durante o espetáculo, que conta também com “apoio institucional da escola artística de dança do Conservatório Nacional, através de um protocolo” para, “na disciplina de formação em contexto de trabalho, os alunos finalistas também participarem no projeto”.
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