O museu tem atualmente um aviso aos visitantes no seu sítio ‘online’ sobre “limitações no percurso expositivo permanente entre os meses de junho e setembro”, uma situação que se repete há vários anos, e que se agrava nos meses de verão, devido às férias dos funcionários.
Questionado pela Lusa sobre a atual situação do museu, que alberga o maior número de tesouros nacionais do país, Joaquim Caetano mostrou-se preocupado com “os problemas antigos, recorrentes, que se agravaram”, como a falta de vigilantes, e o estado dos sistemas elétrico e de climatização, “que precisam de ser substituídos, porque estão a deixar de funcionar”, e deixam salas “às escuras” diariamente.
“Ainda hoje de manhã, o museu abriu às 10:00 e pouco depois o quadro elétrico desligou-se, e só às 11:00, com a intervenção de um eletricista da Direção-geral do Património cultural [DGPC] se conseguiu ter luz outra vez”, revelou, acrescentando que o edifício “ficou às escuras” numa altura em que havia uma delegação oficial de um país estrangeiro de visita.
No último sábado, “também devido a estes problemas com o quadro elétrico, foi necessário encerrar totalmente durante a tarde”, disse o diretor sobre um problema que, por vezes, “demora horas a resolver, quando não fica resolvido só no dia seguinte”.
“Não é um problema inesperado, é recorrente, e tem-se agravado”, reiterou, admitindo que acaba por dar razão aos visitantes, que pagam o bilhete de entrada e não têm acesso a toda a coleção, pelas salas fechadas devido à falta de visitantes, e ainda lhes acontece terem de sair por uma falha elétrica.
Num “museu subitamente às escuras, os visitantes assustam-se e esta situação coloca problemas de segurança do público e das obras exibidas”, em salas com vigilância já reduzida.
Esta situação, “dá azo a reclamações constantes”, segundo o diretor, que se têm resolvido, nos últimos anos, com contratações temporárias, no caso da falta de vigilantes, mas a entrada na reforma de muitos funcionários, e as ausências devido ao contexto da pandemia, agravaram as condições de funcionamento do museu, situado na rua das Janelas Verdes.
Criado em 1884, o MNAA alberga a mais relevante coleção pública do país em pintura, escultura, artes decorativas — portuguesas, europeias e da Expansão –, desde a Idade Média até ao século XIX, incluindo o maior número de obras classificadas como “tesouros nacionais”, assim como a maior coleção de mobiliário português.
A escassez de recursos humanos, não afeta apenas a vigilância das salas – que não se podem manter abertas sem guarda, por questões de segurança – mas também a falta de conservadores e das equipas de pessoal que faz habitualmente a manutenção do enorme edifício, onde se encontram algumas joias do património artístico português, como a Custódia de Belém, obra de ourivesaria de Gil Vicente, mandada lavrar por D. Manuel I e datada de 1506, e os Biombos Namban, do final do século XVI, que registam a presença dos portugueses no Japão.
“Já não temos folga nenhuma, e quando as pessoas precisam de faltar por motivos de saúde ou de férias, tudo se agrava muito”, alertou o responsável máximo por um acervo onde se encontram, nos diversos domínios, algumas obras de referência do património artístico mundial, nomeadamente, os Painéis de São Vicente, de Nuno Gonçalves, obra-prima da pintura europeia do século XV, atualmente em processo de restauro.
A juntar a estes problemas, há ainda uma avaria do sistema de climatização, infiltrações no último piso do anexo e um dos elevadores – usado para o acesso de visitantes com deficiência ou limitação de locomoção – está avariado há um ano.
“Estamos sem ar condicionado e, por isso, sem possibilidade de fazer o controlo de temperatura e humidade, que é essencial” para preservar as obras em exibição, apontou ainda, à Lusa.
O historiador de arte disse à Lusa que todos estes problemas têm sido reportados à tutela, e foram alvo de um relatório circunstanciado que o museu fez no início do ano, mas as situações, que não têm sido resolvidas, “têm tendência a piorar”.
“Temos de pensar seriamente se devemos manter aberta uma instituição que enfrenta estes problemas tão recorrentes e básicos”, avaliou Joaquim Caetano sobre um acervo que atualmente só pode ser visto parcialmente, pouco mais de metade.
Joaquim Caetano indicou ainda que “há um inventário que tem estado a ser feito [pela DGPC], tendo em vista as obras de fundo para aproveitar os fundos previstos no Plano de Recuperação e Resiliência [PRR]”.
“Nós sabemos que a DGPC está a trabalhar na planificação de obras de fundo, mas enquanto não são feitas, há uma situação que já é de rutura e que se mantém”, alertou o historiador de arte, em declarações à Lusa.
Contactada a DGPC sobre os problemas que o Museu Nacional de Arte Antiga enfrenta, o diretor-geral do Património Cultural, Bernardo Alabaça, respondeu, através do seu gabinete, que “serão realizadas intervenções de conservação e manutenção de acordo com as prioridades e disponibilidade de recursos, mas intervenções mais significativas, como substituição integral de sistemas, apenas podem ser enquadradas no âmbito do PRR”.
Sobre esta matéria, há uma semana, a mesma fonte tinha indicado à Lusa que “as intervenções previstas no quadro do PRR são compostas por uma fase inicial de projeto, seguida de empreitada, encontrando-se definido que a globalidade da respetiva execução deverá decorrer entre 2022 e 2025”, avançou então o diretor-geral.
Relativamente aos problemas que museus e monumentos nacionais estão a enfrentar nos recursos humanos, o diretor-geral do Património Cultural respondeu também, por mensagem, através do seu gabinete que, “à falta de vigilantes em museus, monumentos e palácios na dependência da DGPC, informa-se que está esta direção-geral a desenvolver todos os esforços para, no âmbito das suas competências e possibilidades, ultrapassar os constrangimentos amplificados pelo período de férias que se iniciou”.
Na mesma altura, em declarações à Lusa, o presidente da Associação Portuguesa de Museologia, João Neto, apelou à ação do Ministério das Finanças quanto aos “gravíssimos problemas” nos museus nacionais de todo o país, pela “falta de recursos humanos e [necessidade de] obras urgentes” nos edifícios.
João Neto fez um apelo para que aquela pasta do Governo “esteja muito atenta e atue” nos casos mais urgentes, “não apenas nos museus, mas também em palácios e monumentos” nacionais do país.
Em abril deste ano, o Governo aprovou uma lista de 46 museus, monumentos e palácios nacionais, mais três teatros públicos, que serão alvo de requalificação, e determinou que o investimento em património cultural edificado “constituirá uma prioridade” do Quadro Financeiro Plurianual 2021-2027.
O Castelo de Guimarães, o Convento de Cristo, em Tomar, o Mosteiro de Alcobaça, o Museu Nacional de Arte Antiga, o Museu Nacional do Azulejo e o Museu Nacional dos Coches, em Lisboa, são alguns dos que se encontram nesta lista de intervenção prioritária, em termos de requalificação, indicou, na altura, à Lusa, o Ministério da Cultura.
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