Um ano depois de ter sido convidado por Daniel Oliveira, o humorista e colunista da VISÃO Ricardo Araújo Pereira anunciou o regresso à SIC, onde vai apresentar em breve um novo programa satírico com os moldes a que já habituou os telespectadores. “Os altos dignatários políticos dizem coisas e nós fazemos pouco deles”, explicou à VISÃO, no dia em que oficializou a mudança. No dia 10, a mudança de Queluz para Laveiras consuma-se com a primeira reunião do “Governo Sombra” na SIC, ao lado dos seus parceiros do costume Pedro Mexia, João Miguel Tavares e Carlos Vaz Marques (programa que continua a ser também emitido na TSF).
Em que medida é que a mais do que provável compra da TVI pela Cofina pesou nesta decisão de mudança para a SIC?
O Daniel Oliveira fez-me o convite logo após ter tomado posse, creio eu. Portanto, há mais de um ano. Mas eu tinha um compromisso verbal com o Sérgio Figueiredo para fazer o “Gente Que Não Sabe Estar” semanal no primeiro semestre de 2019 e diário na altura das eleições, pelo que só depois disso é que fiquei livre para negociar. Sempre fui muito bem tratado na TVI. O Sérgio Figueiredo foi um diretor irrepreensível: sempre presente para resolver problemas, mas sem nunca interferir no processo criativo, concedendo total liberdade.
Como é que
se desenrolaram as negociações com a SIC? Ainda havia “feridas abertas” do
passado?
Nem abertas nem fechadas. Não havia feridas nenhumas. Quando o nosso contrato
acabou, no fim de 2009, a SIC insistiu para que continuássemos, mas nós não nos
achávamos capazes de prosseguir com o programa. Em 2011, a SIC quis que
fizéssemos novamente o programa na altura das eleições, mas voltámos a recusar.
Depois, acabei por ir parar à TVI, muito por culpa do Luís Cabral. Já
estava na Rádio Comercial, para onde tinha ido a convite do Pedro Ribeiro, pelo
que a ida para um canal do mesmo grupo foi um processo natural.
Qual é o
formato do novo programa satírico, agora anunciado? Análise da atualidade
política ou talk-show?
Terá os mesmos moldes dos que já fizemos, quer na TVI, quer na SIC. Os altos
dignitários políticos dizem coisas e nós fazemos pouco deles. É um trabalho
desgastante.
Nesta
transferência, ficou estabelecida alguma cláusula de rescisão?
Não, não. Se os canais estrangeiros quiserem vir buscar-me, terão de esperar.
Eles na NBC estão de cabeça perdida.
A Boca do Inferno, há 15 anos na VISÃO, é a tua colaboração mais antiga e regular com um órgão de comunicação social. Qual o significado que esse facto tem para ti?
É um facto sobre o qual os responsáveis da VISÃO deviam refletir. Os outros órgãos de comunicação têm o bom senso de me deixar sair periodicamente, para desenjoar um bocadinho.