Há momentos que podem definir toda uma vida. No caso de Tina Turner, nascida Anna Mae Bullock na pequena cidade americana de Nutbush, no Tennessee, a 26 de novembro de 1939, o seu destino ficou marcado no segundo em que, num impulso, saltou da plateia para o palco, agarrou no microfone e cantou um tema de B.B. King com a banda que tocava num bar de St. Louis.
Anna Mae tinha 17 anos e foi contratada nessa mesma noite pelo guitarrista e cantor Ike Turner, que já fazia sucesso na América dos anos 50. A princípio era apenas uma das “Ikettes”, as coristas de Ike. Mas em 1960 agarrou outra oportunidade, quando a cantora principal da banda, Art Lassiter, faltou às gravações de um disco. Ike Turner desafiou-a e a menina da pequena cidade agigantou-se em estúdio, cantando “A Fool in Love”. Foi o seu primeiro sucesso nos tops americanos, e o músico decidiu dar-lhe um nome artístico: Tina.
Em 1962, Tina e Ike casaram-se no México. Tiveram dois filhos e, em termos profissionais e artísticos, faziam o par perfeito. Mas, longe dos holofotes, Tina sofria em silêncio. Ike era agressivo, batendo-lhe de forma sistemática e atirando-a para as urgências do hospital diversas vezes.
Foi em 1976, no final de um concerto, que Tina fugiu dele, com 36 cêntimos no bolso, e nunca mais olhou para trás. Abdicou de toda a fortuna que lhe pertencia, pedindo apenas para manter o seu nome artístico. Mas, nos anos seguintes, todas as portas pareciam ter-se fechado. As grandes editoras consideravam-na “datada” e marcada pelas histórias negras do seu casamento abusivo.
Tina sobreviveu muito tempo esticando apoios sociais do Estado, mas nunca desistiu do sonho de construir uma carreira de sucesso em nome próprio. O reconhecimento chegaria nos anos 80, depois de alguns discos menos vendidos. Em 1984, o álbum “Private Dancer” venderia mais de 20 milhões de cópias, e foi distinguido com 4 Grammies.
Daí até ao seu último concerto, em 2008, celebrando 50 anos de carreira, foi batendo recordes atrás de recordes, deslumbrando sempre o público com a sua energia eletrizante em palco. Vendeu mais de 200 milhões de discos, conquistou 12 Grammies e a revista Rolling Stone considerou-a uma das “10 Maiores Artistas de Todos os Tempos”.
Em 2013 casou-se com o seu companheiro de longa data, Erwin Bach, numa cerimónia budista, e passou a viver em permanência na Suíça, numa pequena cidade perto de Zurique, onde encontrou a tranquilidade desejada. Continua a cantar mas já não nos grandes palcos do mundo: é uma das vozes do projeto Beyond, que une várias religiões através da música, para promover a paz e a harmonia social.