A 6 de janeiro de 2002 o diário norte-americano The Boston Globe publicou a primeira de centenas de notícias sobre o maior escândalo de abusos sexuais dentro da Igreja Católica. Além de identificarem mais de 200 padres da arquidiocese de Boston suspeitos de pedofilia, revelaram que o Cardeal Bernard Law, o arcebispo da cidade, sabia dos casos mas tinha como prioridade silenciar os abusos e não impedi-los (estabelecia acordos financeiros com as vítimas, fora dos tribunais, e, mais grave, transferia os suspeitos de paróquia, em vez de os sancionar).
O Caso Spotlight (estreia na quinta-feira, 28 de janeiro) mostra o que não saiu no jornal: os bastidores da investigação conduzida pela Spotlight, a equipa de jornalistas de investigação do The Boston Globe, que revelou o escândalo há treze anos.
Nomeado para seis Oscars – Melhor Filme, Melhor Realizador (Tom McCarthy), Melhor Ator Secundário (Mark Ruffalo), Melhor Atriz Secundária (Rachel McAdams), Melhor Argumento Original e Melhor Montagem – o filme já venceu vários prémios da crítica. A New York Film Critics Online elegeu-o como Filme do Ano e, esta semana, também os Critics’ Choice Awards (que reúnem as escolhas de mais de 300 jornalistas do Broadcast Film Critics Association) lhe entregaram os prémios de Melhor Filme, Melhor Argumento Original e Melhor Elenco – que, além dos nomeados para os Oscars de melhores atores secundários (Mark Ruffalo e Rachel McAdams), inclui os atores Michael Keaton, Liev Schreiber e John Slattery.
Faziam parte da verdadeira Spotlight, na época em que se passa o filme, os jornalistas Matt Carroll (Brian d’Arcy James), Sacha Pfeiffer (Rachel McAdams), o lusodescendente Michael Rezendes (Mark Ruffalo) – o único que se mantém na equipa -, e Walter V. Robinson (Michael Keaton), editor da Spotlight na altura. Também acompanharam a investigação de perto Ben Bradlee Jr. (John Slattery), o editor que supervisionava a equipa de investigação e o diretor do jornal Martin Baron (Liev Schreiber), o forasteiro que logo no seu primeiro dia na redação desafiou os jornalistas a enfrentarem o imenso poder da Igreja na cidade.
O estilo narrativo de O Caso Spotlight é tão tradicional que chega a parecer inovador nos dias de hoje (há quanto tempo não víamos um filme sem par romântico?). Contar uma boa história, sem artifícios, é a sua grande mais-valia. E não é pouco.
Ao mesmo tempo que parece relembrar um tipo de cinema em vias de extinção, este é também um filme sobre um género de jornalismo em perigo: o jornalismo de investigação, vítima das dificuldades que nos últimos anos têm esmagado a imprensa.
O ex-diretor do Globe, Martin Baron (que atualmente dirige o Washington Post), chama-lhe «uma carta de amor ao jornalismo de investigação». Walter Robinson, na época editor da Spotlight (hoje editor especial do Globe) admite que, nos dias que correm, talvez um filme seja mais eficaz a enaltecer o jornalismo de investigação do que a própria imprensa.
LEIA A REPORTAGEM SOBRE O FILME O CASO SPOTLIGHT E A ENTREVISTA AO JORNALISTA LUSODESCENDENTE DA EQUIPA, MICHAEL REZENDES, NA VISÃO DESTA SEMANA