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FINAL CUT- É difícil para um estrangeiro deixar de ver o seu filme como metáfora da Rússia actual. O notório contraste entre as classes sociais, entre os estilos de vida de ricos e pobres, o materialismo… É legítimo olhar Elena desta forma?
Sabe, a primeira coisa que os jornalista e críticos têm enfatizado no filme, são os aspectos sociais e politicos, e de luta de classes. Mas só descobri que o viam assim, após numerosas conversas e entrevistas. Para mim, pessoalmente, o aspecto mais importante é a história da sua protagonista, Elena. A história da ruína e do colapso dos valores morais. Prefiro não fazer considerações generalistas. Não sou historiador nem comentador politico. Prefiro não tecer comentários desnecessários sobre o facto de nos últimos 20 anos nós, os russo, termo-nos virado furiosamente para a sobrevivência e esquecido tudo quanto não sejamos nós próprios. Seria fácil dizer que no finais dos anos 80, ficámos alienados, perdemos a solidariedade. Mas não, agora, a situação não é tão fatalista. Afinal, as pessoas giram à volta do dinheiro ao longo de toda a história da humanidade. Mas recentemente tenho a sensação de que nada está na cabeça das pessoas que não seja dinheiro. Dantes havia outras coisas nas suas cabeças: valores, objectives, sonhos… Penso que o filme tem um espírito universal. Estou certo de que, depois de tantas exibições internacionais) esta história – a sobrevivência a qualquer custo- é compreensível, não apenas na Rússia mas em qualquer outra sociedade. Com o individualismo crescente as pessoas tornaram-se tarântulas dentro de uma jarra. No fundo, cada ser humano encontra-se devastadoramente só.
Mas Elena parece simbolizar a típica mulher russa, materal, submissa,mas ao mesmo tempo com um grande sentido de sobrevivência face a condições adversas…
Quando conheci a actriz percebi que havia nela algo de único na sua natureza- algo puramente russo, provindo da Rússia rural, algo tão cheio de dignidade e nobreza, mais inerente até à natureza escandinava. Por um lado ela é um russa normal, a encarnação da Mãe em sentido puro. Por outro, ela é uma aristocrata e brilha na sua dignidade. É uma combinação única e fantástica.
Os jovens no seu filme são dominados pelo niilismo e indifirença. Um filho imaturo, desempregado, que não quer saber de nada, um neto membro de um gangue violento, uma filha rica e inútil. Encontra-se pessimista quanto às novas gerações?
Prefiro afirmá-lo de outro prisma: A família está em crise porque toda a gente acha que não precisa dela. No mundo contemporâneo a mulher assume, muitas vezes, o papel da independência enquanto o homem o da irresponsabilidade e do infantilidade. A mulher sente-se capaz de criar filhos sozinha. O individualismo torna a ganhar. A cidade, a competição, o egoism, a avidez, as tentações e o fácil acesso – este é terreno muito fertile.
O aspecto territorial também ganha grande relevância… E a forma como os novos-ricos podem ocupar o lugar dos velhos novos ricos, porque Elena cede à tentação do dinheiro…
Como autor devo guarder uma neutralidade quanto aos personagens. Mas, enquanto ser humano, custa-me pensar que o acto que Elena pratica possa ser admissível, não havia nada que ela pudesse fazer para salvar a família. Há uma grande tentação de justificar a acção dela. Mas há sempre escolha.