<#comment comment=”[if gte mso 9]> Normal 0 21 false false false PT X-NONE X-NONE MicrosoftInternetExplorer4 <#comment comment=”[if gte mso 9]> <#comment comment=” /* Font Definitions */ @font-face {font-family:”Cambria Math”; panose-1:2 4 5 3 5 4 6 3 2 4; mso-font-charset:0; mso-generic-font-family:roman; mso-font-pitch:variable; mso-font-signature:-536870145 1107305727 0 0 415 0;} @font-face {font-family:Calibri; panose-1:2 15 5 2 2 2 4 3 2 4; mso-font-charset:0; mso-generic-font-family:swiss; mso-font-pitch:variable; mso-font-signature:-520092929 1073786111 9 0 415 0;} /* Style Definitions */ p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal {mso-style-unhide:no; mso-style-qformat:yes; mso-style-parent:””; margin:0cm; margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:12.0pt; font-family:”Times New Roman”,”serif”; mso-fareast-font-family:Calibri; mso-fareast-theme-font:minor-latin;} .MsoChpDefault {mso-style-type:export-only; mso-default-props:yes; mso-ascii-font-family:Calibri; mso-ascii-theme-font:minor-latin; mso-fareast-font-family:Calibri; mso-fareast-theme-font:minor-latin; mso-hansi-font-family:Calibri; mso-hansi-theme-font:minor-latin; mso-bidi-font-family:”Times New Roman”; mso-bidi-theme-font:minor-bidi; mso-fareast-language:EN-US;} @page WordSection1 {size:612.0pt 792.0pt; margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm; mso-header-margin:36.0pt; mso-footer-margin:36.0pt; mso-paper-source:0;} div.WordSection1 {page:WordSection1;} “> <#comment comment=”[if gte mso 10]>
É a jornada angustiante e (des)norteada de um homem encurralado – primeiro na paisagem lunar do Afeganistão com seus ardentes desertos e inquietas ravinas, depois na paisagem igualmente lunar, na florestas refrigeradas do norte, talvez na Polónia ou na Noruega, tanto faz. E também quase tanto faz tratar-se de um homem. Neste caso um Talibã, capturado pelos militares americanos, ensurdecido por um disparo de helicóptero, torturado e deslocalizado para estas paragens do primeiro mundo, onde a fuga e os assassinatos em série acontecem porque simplesmente se proporcionam. Diz-se um homem, podia tratar-se de uma daquelas raposas desorientadas, perseguidas pela algazarra da matilha de Beagles e estranhos seres de casaca encarnada montados noutros animais galopantes. Ou aquelas que preferem roer a própria pata para escaparem da armadilha. Este foge, porque sim. E mata, porque sim, também. Porque tem de ser, a sobrevivência é mesmo assim crua, silenciosa, brutal, selvagem, obstinada. E essencial, como diz a versão original do título, Essential Killing.
Este segundo regresso (Matar para Viver estreia-se quinta, dia 23) do veterano polaco, Jerzy Skolimowski, realizador e artista, depois de décadas de afastamento das câmaras –
o último filme foi o gélido, azulado e também cheio de instintos básicos 4 Noites com Anna (2008)-, pode parecer um thriller de perseguição, em que a presa se torna caçador. Aliás, é curioso o exercício de imaginar este filme feito segundo os cânones de Hollywood. Nas mãos de Skolimowski ele torna-se um thriller existencial, minimalista, em que o barbudo afegão (só sabemos que ele se chama Mohammed pelos créditos finais), não pronuncia uma única palavra ao longo do filme. Limita-se arfar, a gemer, a urrar, a tremer de medo e de frio, a matar a fome e as pessoas também a frio, a alucinar também no frio – pelos vistos também podem acontecer miragens em desertos gelados. É uma interpretação gutural, de uma fisicalidade absoluta, e que garantiu a Vicent Gallo o prémio de melhor ator no Festival de Veneza – aliás, o próprio filme saiu premiado.
Disponível para matar
Através de panorâmicas gerais, travellings aéreos, a exibir a pequenez deste animal ferido que vai deixando rasto na paisagem – a neve é um denunciante implacável para um fugitivo ensanguentado -, ou de planos subjectivos, com um design sonoro absolutamente notável e torturante (ou a estridência da banda sonora, ou as pás dos helicópteros, ou as grilhetas nos pés dos prisioneiros, ou os latidos dos cães, ou o grasnar dos corvos, ou o sopro inclemente do vento ou a música infernal de um auto-rádio…), o filme é apenas o retrato implacável de um homem e das suas circunstâncias. Fazer-lhe uma leitura politizada, aprofundar a controvérsia da guerra (daquela em particular e de todas), da cobertura que os países europeus deram aos americanos e aos seus métodos de tortura medicamente assistida está tão implícita que só empalideceria a história. Reduzido ao um estado primitivo, sem rumo nem direcção, está um homem em estado de pré-civilização, que corre sem GPS, não sabe para onde, apenas sabe que tem de correr e matar o que for preciso, de comer o que for preciso, casca de árvore, peixe cru, bagas… Amamenta-se de uma mulher como no livro de Steinbeck, As vinhas da Îra (aqui sem ternura nenhuma), também porque tem que ser. E prossegue a corrida visceral naquelas paisagens alienígenas para onde o levaram, a milhares de quilómetros de casa, tão desesperado como um King Kong em Manhattan. Sem planos, sem destino, ele apenas foge, acossado. Matas ou és morto: a absurda lei da vida.