E se em Revolutionary Road o casal tivesse partido para Paris, em vez de se deixar engolir por aquela sociedade claustrofóbica? Não se sabe ao certo o que aconteceria. Mas o filme seria outro. Ou não haveria filme nenhum. Ou então – quem sabe – tornar-se-ia em algo parecido com Um Lugar para Viver, o último filme de Sam Mendes, já após o divórcio de Kate Winslet. E às vezes são pormenores que distinguem os géneros. Em Revolutionary Road a sociedade parte-os ao não os deixar partir. Em Um Lugar para Viver a partida só serve para encontrar o mundo partido – ao contrário de Revolutionary Road, o mundo está feito em cacos, enquanto o casal se mantém indestrutível, unido perante a loucura do mundo; a viagem, a rigor, serve apenas para cumprir a máxima: “Às vezes é preciso dar uma grande volta para ficar no mesmo sítio”. O primeiro é um off the road, o segundo um road to nowhere.
Tal como Beleza Americana, o filme começa com uma pouco usual cena de sexo. Também por aí se faz a diferença. A masturbação de Kevin Spacey Beleza Americana revela uma enorme solidão e um egoísmo elevado a consequências drásticas, o sexo oral praticado por Burt, em indicia um filme em espírito altruísta. É que este casal ‘grávido’ parte para o mundo de braços abertos, em busca porventura da felicidade que já está na sua posse. O mundo é que se revela insano e incurável de forma nada drástica. É por isso que este Sam Mendes, novamente com a família como tema, se enche, ao contrário de outros, de esperança e de optimismo: continua a não dar grande coisa pelo mundo e pela vida em sociedade, mas revela fé no indivíduo ou, se quisermos, no amor.
A dupla de actores, e em especial John Krasinsky, ajuda a criação de momentos de delírio cómico, num filme muito musical, que consegue o difícil equilíbrio se ser feliz e leve, sem ser piegas nem leviano.