A ANTI Avatar tem uma mensagem politicamente correcta, muito à século XXI. Pacifista, ecologista e sobretudo anti-imperialista e anti-militarista. Já é costume os militares americanos saírem mal na fotografia, seja no Iraque, no velho Oeste ou no Planeta Pandora.
B BANDA SONORA É a terceira colaboração do compositor James Horner com Cameron, depois de Aliens e Titanic. Aliás, a banda sonora também foi alvo de uma das oito nomeações. Partes das músicas foram compostas em colaboração de uma etnomusicologista para dar a sonoridade étnica das cantilenas da tribo dos Na’vi. A música tema do filme “I See You” é interpretada pela cantora inglesa Leona Lewis e também foi nomeada.
C CHINA E RÚSSIA – As duas grandes contribuições para o sucesso de bilheteira no estrangeiro de Avatar vêm destes territórios-chaves. Titanic não teve aqui a mesma aceitação.
D DANÇA COM LOBOS – Nada nasce do vácuo. A história de Avatar é muito próxima do filme de Kenvin Costner, de 1990. Também aqui o marine Jake Sully se passa para o lado dos nativos, e lidera a resistência dos autóctones, escorraçados do seu território. Tal como o oficial John Dunbar fez com a tribo de índios no remoto Oeste. Mas no caldeirão Avatar também há que lhe juntar o lado Tarzan, quando as criaturas azuis dormem penduradas nas árvores, se passeiam por lianas, e tem uma relação cúmplice e cooperativa com os animais da selva. E também o lado Star Wars, claro. Ou mesmo, Apocalipse Now, quando os helicópteros futuristas lançam chamas sobre a floresta. E sobretudo uma grande dose naive de Rei Leão e Pocahontas.
E E TUDO O VENTO LEVOU – Segundo um cálculo corrigido, que tem em conta a inflação, o clássico de Victor Fleming, de 1939, continua a liderar a tabela dos filmes mais rentáveis. Segue-se a Guerra das Estrelas (1977), Música no Coração (1965) e ET (1982).
F FLUTUANTES- As célebres montanhas suspensa, com quedas de água que se precipitam no vazio, fascinaram o mundo inteiro. O parque Zhangjiajie na China mudou o nome destas formações rochosas para Avatar Hallelujah Moutain
G GÍRIA Para recriar o idioma na’vês, Cameron recrutou um linguista que inventou uma linguagem com cerca de mil palavras, com uma coerência sintáctica e fonética.
H HOWARD HUGHES – E o que é que o magnata, aviador, realizador de cinema e dono da TWA, tem a ver com Avatar? Para além da megalomania e do espírito de pioneirismo que partilha com Cameron, foi no gigantesco hangar, onde Hughes construiu o não menos megalómano avião Spruce Goose, que o Cameron instalou o enorme estúdio. Foi aqui que os actores interpretaram as suas cenas em versão avatar, envergando uma espécie de fatos de mergulhadores equipados com milhares de sensores e câmaras faciais, que permitiram captar todas as nuances das expressões corporais nos mais ínfimos detalhes. Só assim foi possível o hiper-ralismo das figuras azuis, tão flesh and blood como os actores reais.
I IMPOSSÍVEL Cameron é conhecido por ser um realizador feroz. Há 12 anos que toda a sua reputação está investida em Avatar. Comenta-se que tem uma relação difícil com a palavra “impossível”. Diz-se que este vocábulo o deixa sexualmente excitado. E além disso, não tem contemplações com economias impostas pelos estúdios. Titanic foi o primeiro a romper a barreira dos 200 milhões de dólares, Avatar, diz a versão oficial, bateu os 237, embora muitos jornais americanos subam a fasquia para 310 milhões (500 milhões somados os custos de distribuição e marketing). A sua determinação em combater “impossíveis” levaram à criação destes novos monitores virtuais e câmaras 3D incrivelmente mais ágeis e viáveis. Aliás, foi a teimosia inventiva de Cameron que já o levara a inventar veículos submergíveis para transportar câmaras até aos abismos oceânicos inexplorados.
Y Yoda O último ser do espaço com orelhas em bico que tínhamos visto, sem contar com o inefável Mr Spock, era o Yoda da Guerra das Estrelas. Inteligente, mais ágil do que fazia supor, mas verde e bastante baixote. Aqui, os orelhudos Na’vi são azuis, bem constituídos, e medem três metros de altura.
J JAGUAR Apesar de serem pedrestres e azuis e medirem mais de três metros, a grande cartada de Cameron e seus técnicos quase estilistas foi terem criado umas figuras quase felinas, que além de elegantes conseguem ser sexys. Torna-se fácil para o espectador empatizar com esta espécie alienígena, o que não acontecia, de todo, com os insectos cheios de antenas e tenazes de District 9 (o outro filme de ficção científica também nomeado a Óscares). K KING James Cameron deve ser, neste momento, o realizador com o maior ego do mundo. Titanic deu-lhe 11 óscares (algo só alcançado com Ben-Hur e Senhor dos Anéis). No discurso, Cameron agradeceu a todos os que tinham tornado o filme possível (Deus incluído) e aos seus dois “produtores”: o pai e a mãe. No final gritou como a personagem, Di Caprio à proa do navio: “I’m the King of the world!”
L LUXURIANTE É já considerado o mais convincente mundo artificial jamais criado no ecrã. Uma floresta luxuriante, com a sua fauna e flora, com grau de detalhes e complexidade impressionante é um festim para os olhos, em que a tecnologia 3D é apenas mais um pormenor. Há quem veja nestas paisagens influências do pintor Roger Dean, dos anos 70, ou de um look psicadélico em geral. Mas existe seguramente uma relação com o fascínio de Cameron pelas prospecções marinhas. Naquilo que se assemelha a uma floresta tropical, há plantas que parecem anémonas e algas movediças, insectos que parecem criaturas sub-aquáticas, e umas maravilhosas medusas que flutuam pelo ar. Há quem avente também que Cameron se possa ter inspirado nesses quadros holográficos que costumam existir nas paredes dos restaurantes chineses.
M MONITOR VIRTUAL Uma das tecnologias concebidas especialmente para o filme foi a invenção de um monitor que permitia a visualização dos actores e das cenas como eles seriam de facto no filme, azuis e já na sua tridimensionalidade. Na realidade, os actores actuavam envergando uma espécie de fatos de mergulhadores cobertos de sensores.
N NAVEGAR Depois de Titanic, neste interlúdio de 12 anos, Cameron fez dois documentários sobre as profundezas oceânicas. Cameron é um apaixonado por mergulho de grande profundidade. Para essas filmagens desenvolveu tecnologia que lhe permitiu filmagens dos grandes abismos. Andou dois meses em rodagem no mar, diz que nunca fez nada tão difícil e desafiante. A equipa inteira teve de se diplomar em mergulho. Passavam 10 horas por dia mergulhados em águas gélidas, em grandes profundidades, as bolinhas de polipropileno causavam infecções nos ouvidos e pulmões, o cloro tornava o cabelo frágil, que se quebrava ao congelar. Por isso, pensou, só Avatar estaria à altura de tamanho desafio.
O OLHOS – “I see you”, é a maneira dos Na’vis dizerem “i love you” ou qualquer coisa do género. Os olhos amarelos das criaturas azuis não são por acaso. Todos os animadores da Disney e da Dreamworks sabem que só olhos grandes conseguem atrair a simpatia do público. Lembram-se dos olhos do gato do Shrek?
P PRENÚNCIO Os Globos de Ouro costumam ser um bom oráculo para Óscares. Avatar ganhou o Globo de Melhor Filme e Realizador. Também teve duas nomeações para os globos de Melhor Banda Sonora e Melhor Canção Original.
Q QUANTIDADES – O número de bilhetes vendidos mundialmente no fim de semana de estreia atingiu 232 milhões 180 mil dólares. Em menos de um mês, alcançou um bilião. Agora a superação da margem dos dois bilhões tornou-o o filme com maior box-office da história do cinema, não considerando os ajustes inflacionários e o facto do 3D aumenta ro preço dos bilhetes. Também se se lhe referiu como o mais caro filme de sempre (isto, outra vez, sem os ajustes inflacionários), já que o recorde é detido por Cleopatra. Ao ultrapassar Titanic, é já o filme com maior receita de sempre. Em Portugal, é campeão de bilheteiras mantendo-se há sete semanas em nº1, levando mais de 76 mil espectadores às salas.
R ROLLING STONE A famosa revista preparou uma edição especial com vários ícones musicais em versão azul Na’vi. Desde Maddona, a Bruce Springsteen, aos Beatles ou Bono Vox – todos com aquele ar de Blue Man Group e orelhas pontiagudas.
S SEQUELA Cameron realizou a primeira sequela de Aliens, em 1986. Depois do estrondoso sucesso de bilheteira de Avatar, já admitiu fazer o follow-up. Segundo ele, as tecnologias estão criadas, e já não será preciso fazer um investimento tão ambicioso para viabilizar uma segunda ou até terceira produção.
T TRIDIMENSIONAL O 3D não é novidade, mas no filme de Cameron, a técnica foi aperfeiçoada à sua mais alta escala. Através da invenção do monitor virtual e também de um novo modelo de câmara, muito mais leve e ágil que roda simultaneamente em duas e três dimensões. Até aqui as câmaras 3D eram estáticas e pesadas, mais ou menos do tamanho de uma máquina de lavar, com 150 quilos.
U UNOBTAINIUM É o Macguffin da história, como nos filmes de Hitchcock- ninguém sabe exactamente o que é, mas todos andam atrás dele. Os terráqueos querem à viva força apoderar-se das jazidas deste minério combustível. O garimpo intergaláctico começa a fazer escola nos filmes de ficção científica do século XXI. Agora, o mais motivador para as expedições espaciais já não é a indagação de outras formas de inteligência no Universo, mas a busca pragmática de soluções energéticas (já no recentíssimo Moon era assim).
V VILÃO Cameron sabe o valor que tem um bom vilão numa história. É ocaso do militar americano interpretado por Stephen Lang, que basicamente quer arrasar com o planeta todo aquilo tudo e ir direito às jazidas. Também aqui existe a personagem gananciosa, que só zela pelos lucros corporativos da empresa, tal como o marido da Kate Winslet em Titanic, só se interessava pelo pecúlio da noiva
X XENOFOBIA Em Titanic, Cameron teve de arranjar um romance entre o rapaz pobre e a rapariga rica para criar tensão dramática. Havia que combater preconceitos sociais. Em Avatar estão em causa muito mais do que barreiras raciais. Preconceitos entre seres de outro planeta são vencidos pelo amor inter-espécie, de Jake Sully (humano ou na sua versão de híbrido avatar) e Neytiri, filha do chefe da tribo. Mas no fundo, a love-story de Titanic reaparece aqui: um plebeu apaixona-se por uma princesa. É outra vez a história de um romance envolto na tragédia.
W WETA DIGITAL Na verdade foi a produtora de efeitos especiais de Peter Jackson, na Nova Zelândia, que abriu caminho para que esta técnica de “captação de movimento” se aperfeiçoasse. Já em King Kong ou Gollun, do Senhor dos Anéis, o grau de realismo era notável. Aqui ainda é superior. A Weta tem um sofware sem rival que interpreta os movimentos corporais e cada micro-expressão facial dos actores com uma precisão anatómica muito mais refinada do que anteriormente. Até sobre a estrutura interna do olho humano. O que quase não nos faz distinguir o que é real do que é processado digitalmente. Z ZOE SALDANA Ela não se vê, e é pena, porque é muito bonita. Para a actriz que faz de Neytiri, princesa do clã Omaticaya, não é primeira incursão na ficção científica. Já aparecera no Star Treck revisitado de 2009, mas agora na sua versão azul, e totalmente irreconhecível.