“Vocês têm muita sorte, porque estão aqui, 50 anos depois, num sítio que foi um dos lugares centrais da Revolução.” Marcelo Rebelo de Sousa deu assim as boas-vindas aos alunos vindos de vários pontos do País, a quem falou sobre o valor da liberdade e recordou como era a vida antes do 25 de Abril.
Esta não foi uma “aula” normal. Na plateia estiveram três centenas de jovens oriundos de vários pontos do País. E traziam o trabalho de casa feito, com perguntas dirigidas aos três convidados. Nesta tarde, recordou-se o dia em que a Liberdade chegou ao nosso país pela ótica de duas figuras incontornáveis: Vasco Lourenço, um dos capitães de abril, e Alfredo Cunha, um dos fotógrafos que captou alguns dos momentos mais importantes da Revolução.
Marcelo Rebelo de Sousa falou sobre o Portugal de Salazar, das vitórias da democracia e sublinhou o papel dos jovens nas revoluções, devido ao seu “dinamismo, imaginação e capacidade de mudar”. Quando lhe perguntaram a opinião sobre o estado atual da Democracia [referindo-se à ascensão de partidos de extrema-direita], deixou um apelo: “São vocês, e as próximas gerações, quem vai ter o papel fundamental de dizer que é preciso mudar isto.”
Marcelo recordou ainda que, após o 25 de Abril, foram pessoas jovens com 20 e 30 anos que assumiram os lugares de destaque na sociedade e lamentou que isso não se verifique atualmente. “Não basta ouvir os jovens, vocês têm de ter um papel de destaque.” Questionado por Laura, 9 anos, se é este o país que tinha então sonhado, o Presidente da República respondeu que “ainda não.”
“Está nas vossas mãos manter a liberdade”
“A primeira coisa que vos peço é que perguntem aos vossos avós como era Portugal antes do 25 de Abril.” Para o General Vasco Lourenço, é fácil perceber as razões porque, com os seus camaradas do Movimento das Forças Armadas, montou a operação que resultou no golpe de Estado.
“Percebemos que tínhamos de acabar com uma sociedade repressiva onde a liberdade não existia. Também percebemos que, nas Colónias, se praticava uma exploração que não era aceitável e que quem estava com a razão era quem lutava contra nós [na Guerra Colonial].”
Meio século passado, mas com a memória bem viva daquele período, Vasco Lourenço garantiu sentir-se honrado por terem sido “os protagonistas de um episódio único da História universal.” E lamentou apenas não ter estado em Lisboa no dia da revolução. “É um dos maiores desgostos da minha vida, estava em Ponta Delgada, nos Açores.”
“Recebi um telegrama do Otelo, em código, em que dizia a hora e o dia em que se daria o golpe. Era de madrugada, e liguei o rádio para perceber o que se passava e quando ouvi que o posto tinha sido tomado pelo MFA comecei a gritar Ganhámos! Ganhámos! e a saltar como um maluquinho.”
Mas se, durante meio século, vivemos em plena democracia, Vasco Lourenço não desvaloriza o destaque que partidos “neo-fascistas” estão a ter na sociedade portuguesa. Para travar essa tendência, deixou ao jovens um aviso: “Está nas vossas mãos manter a liberdade e a democracia. Perguntem a vós próprios se conseguiriam viver sem liberdade e ajam em conformidade.”
“Tive a felicidade de fotografar o meu sonho”
Alfredo Cunha tinha 20 anos e, na altura da Revolução, era repórter fotográfico no jornal O Século. São da sua autoria muitas das fotografias mais famosas do 25 de Abril e, para este dia no Quartel do Carmo, o fotógrafo escolheu umas quantas que projetou e comentou, uma a uma, levando os mais novos numa espécie de passeio guiado pela Revolução.
Da primeira, quando encontrou meia dúzia de militares armados, ainda manhã cedo no Cais do Sodré – encontro que o levou a crer que algo muito importante estava a acontecer -, até ao famoso retrato de Salgueiro Maia, passando por imagens menos conhecidas que, explica, “estiveram guardadas e esquecidas durante mais de 20 anos.”
O fotógrafo recordou ainda o episódio em que conheceu Salgueiro Maia, figura que muito admira, e mostrou a fotografia desse preciso momento. Estavam no Terreiro do Paço, contou, e o capitão, ao vê-lo escondido, deu-lhe um “raspanete” por estar a fotografar. Pediu-lhe a identificação, perguntou-lhe se era a favor ou contra o golpe e, percebendo que nada havia a recear, disse-lhe então para fotografar às claras. Foi o que fez. “Tive a felicidade de fotografar o meu sonho”, confessou Alfredo Cunha aos alunos.
A Minha Liberdade é de Todos
Neste evento, estiveram também presentes o ministro da Educação, Ciência e Inovação, Fernando Alexandre, e a ministra da Juventude e Modernização, Margarida Balseiro Lopes. A tarde terminou com a revelação de um mural digital, resultado da campanha “A Minha Liberdade é de Todos” que, desde março, conta já com a participação de mais de 11 mil jovens de todo o País.
A campanha, desenvolvida pela Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril em parceria com a plataforma Gerador, desafia os jovens a entrar no site da campanha e, usando um simbólico lápis azul, transpor para um quadrado do tamanho de um azulejo tradicional português a sua interpretação de Liberdade.