“Não vão faltar produtos nas prateleiras do Continente”, assegurou a presidente executiva da Sonae, no momento em que apresentou os resultados financeiros do grupo. Se há perspetivas de haver falta de cereais e todos os produtos derivados, Claudia Azevedo avança com a proposta: “A Europa devia encontrar mercados alternativos, como os Estados Unidos ou o Brasil, e avançar com compras em bloco, tal como fez com as vacinas durante a pandemia. Seria a solução ideal”.
Aliás, é já com olhos postos nesses mercados que a Sonae está a trabalhar, mas se houvesse uma atitude europeia nesse sentido talvez a negociação fosse mais fácil – defendeu, com a mesma confiança que diz que “nos armazéns da Sonae, para já, não falta nada”. Farta de más notícias, que alarmam consumidores e provocam por vezes corridas desnecessárias aos supermercados, garantiu: “Se tivermos um problema, arranjamos solução”.
Afinal, algo se tem aprendido com as crises sucessivas do país e este é apenas “mais um desafio”. Mas a filha de Belmiro de Azevedo também chamou a atenção para a necessidade de o consumidor participar neste esforço. Racionamento? “É mais moldar a procura”, respondeu. “Temos de ser todos consumidores mais racionais e consumir menos”, apelou, ridicularizando até aqueles que caem na tentação de açambarcar.
Para já, o pão está assegurado. “100% do trigo das nossas padarias é produzido em Portugal”, tinha antes afirmado o administrador Gunther Amaral, para sublinhar o resultado da associação que o Continente fez com o Clube de Produtores. Processos que demoram o seu tempo, mas que reativaram muitas produções abandonadas no Alentejo.
Quanto ao aumento do custo da energia, a líder da Sonae também foi muito clara: “É algo que afeta toda a gente. Mas 50% dos custos da energia são impostos. Espero brevemente novidades nessa frente por parte do nosso Governo.” Recordou ainda que 70% da energia em Portugal vem de fontes renováveis e, como tal, é hora de começar a sentir algum benefício disso.
Mais à frente, explicaria que terá de haver uma adaptação aos custos energéticos e que “toda a cadeia de valor vai ter de absorver alguns choques”, de forma a que esse potencial aumento não fique apenas a ser pago pelo consumidor final. Pelo seu lado, deixou a promessa de as cadeias de supermercados Continente “continuarem a ser líderes nos preços” e de continuar a haver promoções. “Está tudo muito incerto, mas vamos lutar por isso.”
Com as cores da Ucrânia
Segura, Cláudia Azevedo apareceu vestida com as cores da Ucrânia. Sonae for Ukraine é também um projeto que juntou todas as empresas do grupo numa só plataforma, com vista a participarem neste esforço solidário para com o país invadido. E que passará por quatro valências: receção, habitação, educação e emprego.
Entretanto, estão em processo de fecho de uma pequena loja que tinham na Rússia, assim como a rescindir contratos com alguns distribuidores. Tudo coisas que não causarão “qualquer impacto” no grupo.
Já em relação a 2021, que sofreu ainda muitas consequências da pandemia, “foi um ano histórico para a Sonae”, com o volume de negócios a atingir, – “pela primeira vez”, como sublinhou o CFO João Pedro Dolores – 7 mil milhões de euros, para resultados líquidos de 268 milhões, o valor mais alto dos últimos 8 anos. Destaque ainda para a redução da dívida, que passou dos 1,1mil milhões para os 563 milhões, mesmo tendo investido 474 milhões. Estão criadas as condições para que a Sonae funcione cada vez mais como sociedade gestora de participações sociais.
“Foi um ano em que trabalhámos muito, mas muito gratificante”, finalizaria Cláudia Azevedo, que procedeu recentemente a uma renovação da marca e alterou os princípios que movem o grupo. “Descomplicamos desafios. Mudamos a identidade, mas não quem somos”, afirmou.
E o que se pode esperar no próximo ano? “Com estas incertezas, prognósticos só no fim do jogo”.