As festas engordaram-no como o peru que foi à mesa numa das refeições da época natalícia? Sente que passou os últimos dias do ano a comer, para compensar as celebrações em modo reduzido? Chegou aquela altura em que a ressaca e culpa nos levam a embarcar em programas de detox absolutamente desnecessários, em dietas malucas capazes de nos pôr num iô-iô de peso a mais, peso a menos.
Neste contexto, e de entre a panóplia de oferta para emagrecer, aparece também o jejum intermitente, um dos regimes mais quentes do momento. Isto porque a Ciência teima em defendê-lo como uma dieta com uma mão cheia de alegações de saúde, mas os profissionais de saúde ainda não o aceitam bem nos seus consultórios.
Um dos maiores culpados é um estudo publicado, no ano passado, no The New England Journal of Medicine, liderado por Mark Mattson, da Universidade de John Hopkins, em Baltimore, que sugere que o jejum intermitente pode, além de ajudar na perda de peso, claro, reduzir a tensão arterial, reverter a diabetes do tipo 2, melhorar a saúde cardiovascular, e até mesmo prolongar o tempo de vida.
Mas, atenção, existem dois tipos de jejum e cada um deve adaptá-lo ao seu estilo de vida: comer durante um período de 6 a 8 horas e não engolir qualquer alimento nas 16 a 18 horas seguintes; o 5:2, que consiste em jejuar durante dois dias por semana e, normalmente, com um limite de 500/600 calorias, e nos restantes alimentar-se normalmente.
Segundo o coordenador da publicação científica, Mark Mattson, a melhoria na saúde das células deve-se, provavelmente, ao facto de, com jejum, se desencadear um processo que ocorre naturalmente em alturas de escassez de alimentos, que se apelida de cetógenese – as células gastam as suas reservas de açúcar, metabolizando-as rapidamente, passando a converter gordura em energia.
É indispensável acompanhamento especializado
Apesar dos benefícios declarados nesta revisão de vários estudos anteriores, os investigadores pedem aos médicos para acompanhem os seus pacientes durante o período inicial do jejum intermitente, de forma a ir aumentando gradualmente a sua duração e frequência. Até porque, como se lê no estudo: “Ao mudar-se para este regime, muitas pessoas vão sentir fome, irritabilidade e uma diminuição na concentração, especialmente nos períodos de restrição alimentar. No entanto, esses efeitos secundários laterais tendem a desaparecer num mês, mas os pacientes devem ser avisados deste facto.”
Embora a evidência seja cada vez maior, ainda existe alguma relutância entre médicos e nutricionistas, que não estão treinados para estas intervenções. No estudo, sugere-se que se comece por aconselhar uma redução da quantidade de comida, durante vários meses, assim como a janela de tempo em que se passa a comer. O objetivo final serão as 16 ou 18 horas de fome por dia. O mesmo método gradual se aplica ao jejum 5:2, iniciando-se com apenas um dia de restrição calórica, durante um mês, para depois se expandir para um segundo dia.
A boa notícia é que, para todos aqueles que são incapazes de passar tanto tempo sem comer, estas investigações também servem para se desenvolver uma alternativa farmacológica que mimetize os efeitos benéficos do jejum intermitente nas nossas células – sem se passar fome.
E, atenção, que os estudos compilados nesta publicação científica centraram-se, essencialmente, em jovens e adultos de meia idade com excesso de peso, logo não é possível generalizar os benefícios e a segurança do jejum intermitente noutras faixas etárias.