O Governador do Estado de Victoria, na Austrália, Daniel Andrews, tem vindo a tornar-se uma figura polémica, ao defender que “a pandemia tem de ser suprimida de forma agressiva agora, para evitar futuros confinamentos causados por novas vagas do vírus”.
O Estado de Victoria é o epicentro do surto de covid-19 na Austrália, com 75% dos seus casos e 90% das mortes. A cidade de Melbourne, capital do Estado, conta com uma média de 52 casos de covid-19 por dia, ao longo das últimas duas semanas. Os seus 5 milhões de habitantes estão em confinamento desde o inicio do mês de julho.
As opiniões dos habitantes de Melbourne dividem-se entre os que apoiam o Governador e aqueles que se opõem frontalmente às medidas implementas, apelidando-o de “ditador”.
115 dias em confinamento
A cidade de Melbourne está em confinamento desde o dia 9 de julho. Na última semana, Daniel Andrews estendeu este prazo até ao dia 26 de outubro – e apenas se o vírus estiver “quase eliminado”. Neste cenário, os habitantes da cidade australiana preparam-se para viver um total de 115 dias em confinamento, contrastando com os 58 dias de Itália, ou os 45 dias de Portugal.
As regras deste confinamento ditam que as escolas devem permanecer fechadas, assim como todas as lojas – com exceção das bombas de gasolina, supermercados e mercearias. Os residentes da cidade que não sejam “trabalhadores essenciais” só podem sair de casa entre as 9 da manhã e as 5 da tarde para fazer exercício, comprar comida, tomar conta de alguém doente ou ir ao médico.
Os militares do exército australiano fazem rondas porta-a-porta para verificar se os infetados permanecem isolados e é comum ver polícias a pedir a identificação a ciclistas, para confirmar que se encontram dentro do perímetro autorizado de cinco quilómetros da sua casa.
O “Ditador Dan”
O confinamento rígido de Melbourne chegou a ser comparado com o regime da Coreia do Norte e o Governador do Estado foi apelidado de “ditador Dan” por aqueles que se opõe a estas medidas.
Na sexta-feira, Michelle Loielo intentou uma ação no Supremo Tribunal de Victoria a contestar as regras impostas pelo Governador, com base na “irracionalidade e desproporcionalidade do confinamento, tendo em conta as leis de saúde pública”.
Loielo, mãe solteira de três filhos que trabalha na área da restauração em Melbourne, afirmou num documento entregue ao tribunal que “desde que o confinamento começou que o ambiente em casa é sufocante” e que “o isolamento social da família e amigos tem sido insuportável”.
Loielo não está sozinha na sua oposição ao confinamento. No último fim-de-semana, mais de 250 pessoas juntaram-se em protestos ilegais contra as restrições impostas, que terminaram em confrontos com a polícia local de Melbourne. Mais de 80 pessoas foram detidas e outras 176 foram multadas por violar as regras do confinamento.
Andrews classificou os manifestantes como “egoístas e criminosos”. De acordo com o governador, “esta não é a altura para protestar. Ninguém tem o direito de fazer algo que põe em causa todo o nosso esforço.”
A popularidade do “ditador da covid” australiano
Apesar das ações judiciais e dos protestos nas ruas, a popularidade de Daniel Andrews está a crescer entre os habitantes do Estado de Victoria. De acordo com uma sondagem realizada no dia 10 de Setembro, Andrews conta com uma taxa de aprovação de 70%.
A razão desta popularidade pode ser justificada pelas conferências de imprensa diárias do Governador australiano, que se tornaram parte da rotina matinal dos residentes de Victoria. Num artigo de opinião do “The Age”, um jornal da cidade de Melbourne, uma jornalista pede ao governador para “fazer uma pausa, pelo bem dos cidadãos de Victoria” e recomenda-lhe “uma noite de 12 horas de sono”.
No entanto, a pressão está a aumentar sobre Andrews. O número de cidadãos de Melbourne que recebe o subsídio de desemprego subiu 7.2% desde dia 26 de Junho. Além disso, o país vive a sua primeira recessão em 29 anos e o Governo Federal da Austrália tem vindo a pressionar Daniel Andrews para “relaxar as regras de confinamento”.