O Observatório Nacional da Violência Contra os Profissionais de Saúde no Local de Trabalho não para de adicionar casos aos seus registos. Só na última semana do ano, houve três episódios. Criado em 2013, pela Direção-Geral da Saúde (DGS), a instituição permitiu que as notificações sejam feitas online – e já são 4893. Mas nem todas dizem respeito a agressões físicas: mais de metade referem-se a assédio moral, 20% são ataques verbais e 13% implicaram envolvimento físico (636 casos).
Os enfermeiros são os que mais sofrem com este tipo de violência, sendo responsáveis por metade das notificações ao site da DGS. As queixas dos médicos representam 27% das ocorrências.
Nos últimos anos, os números dispararam. No primeiro semestre de 2019, atingiu-se um valor máximo: entre janeiro e junho, houve 637 notificações (no mesmo período do ano anterior tinham sido 439).
Entre as estratégias pensadas pela tutela, em maio, para combater a violência nas unidades de saúde estão os chamados botões de pânico, que já são utilizados em várias unidades do País, mas sem resultados visíveis.
Ainda não são conhecidos todos os casos do segundo semestre, mas só na última semana do ano saltaram para as notícias três histórias diferentes, envolvendo médicos e utentes, duas delas no mesmo hospital de Setúbal. A saber:
Dia 27. Setúbal. Uma utente do serviço de urgência do hospital de São Bernardo agride com violência uma médica de 65 anos, puxando-lhe os cabelos e pondo-lhe o dedo no olho. A agredida teve de ser transferida, posteriormente, para Lisboa, onde se sujeitou a uma pequena cirurgia a um olho, no hospital de S. José.
Dia 31. Moscavide. Um jovem de 21 anos enfurece-se quando o seu médico de família não lhe prolonga a baixa, que poderia ter sido renovada a 25 de dezembro. Com a ajuda da namorada, pontapeia e dá socos a Vítor Silva Santos, de 65 anos, que se vê impedido de fugir do gabinete. O profissional de saúde está agora de baixa por duas semanas, depois de ter ficado com feridas num olho e uma costela fraturada.
Dia 31. Setúbal. Um doente, após esperar quatro horas nas urgências para ser atendido, terá sequestrado um casal de médicos, para logo depois o agredir com cadeiras e uma mesa. O hospital já desmentiu as agressões físicas, mas não o sequestro. A história começa com ameaças à médica, que, nessa sequência, grita pelo marido, que trabalha na mesma unidade de saúde, pedindo-lhe auxílio. O utente terá acabado por fechá-los aos dois num gabinete. O segurança do hospital de São Bernardo teve de arrombar a porta para acabar com o episódio de violência.