Ser influencer é o ganha-pão de mais de 20 milhões de pessoas em todo o mundo e a tendência é que os números aumentem, já que é um negócio que envolve milhões de euros. Contudo, há quem comece a duvidar da fiabilidade da publicidade que youtubers, instragammers e outros influencers fazem nas suas páginas a determinadas marcas, por mostrarem situações que, muitas vezes, não correspondem à sua realidade ou não conhecerem nem comprovarem realmente os benefícios de determinado produto.
Um dos casos mais falados foi o da colombiana Yovana Mendoza Ayres, que tem mais de um milhão de seguidores no Instagram e quase dois milhões de subscritores no Youtube, e que incentiva constantemente os seus fãs a seguirem uma dieta vegan. A jovem foi, recentemente, apanhada a comer peixe num vídeo publicado por uma outra youtuber.
Já um estudo apresentado em abril deste ano no Congresso Europeu da Obesidade sugere que apenas um em cada dez influencers de saúde sabe realmente do que está a falar nas suas publicações relativas a perda e manutenção de peso.
Por outro lado, existem marcas que começam a desacreditar no impacto que determinados influencers têm realmente e na sua influência verdadeira quando o que se pretende é vender um produto.
A história mais recente – e das que melhor retrata o panorama atual da relação entre influencers e marcas- envolve a americana Arii, de 18 anos, que publicou a sua primeira fotografia no Instagram em setembro de 2017 e hoje acumula 2,6 milhões de seguidores.
Diariamente, a jovem faz publicações que mostram o seu novo batom maravilhoso, os seus mais recentes ténis incríveis ou um tratamento inovador de estética que os seguidores não podem deixar de experimentar.
Depois de milhões de gostos, comentários e, claro, muito dinheiro acumulado, a jovem decidiu criar a sua própria linha de vestuário. Contudo, de forma surpreendente, a influencer não conseguiu vender 36 das suas camisas, o número mínimo exigido para que as encomendas pudessem seguir em frente.
Numa publicação (entretanto apagada) no Instagram, a jovem referiu estar com o “coração despedaçado” com a falta de vendas das suas peças. “Eu sabia que seria difícil, mas vocês estavam a dar-me um feedback tão positivo que eu achava que as pessoas gostavam e iam comprar”, escreveu Arii. “Ninguém manteve a sua palavra e, por isso, a empresa não pôde aceder aos pedidos das pessoas que fizeram uma compra e isso está a partir-me o coração”, finalizou, reconhecendo o fracasso do seu novo projeto.
A sua publicação teve quase 36 mil gostos, mas a verdade é que as reações que obteve na sua confissão não fizeram com que as vendas aumentassem. Esta situação mostra que, muitas vezes, os influencers crescem “numa bolha fraudulenta”, com público falso ou de pouca qualidade, e que, mais cedo ou mais tarde, as marcas, que investem milhares e até milhões de euros em campanhas com influenciadores, se apercebem disso, já que o retorno é pouco ou quase nenhum.
Ao jornal espanhol El Mundo, Luis Díaz, CEO da agência de marketing de influência Human to Human, explica que esta situação prova que a maioria da comunidade de Arii é falsa e que mais de metade dos seus seguidores são bots (utilizadores falsos e que seguem e gostam de publicações automaticamente). “Alguém a devia ter avisado que um bot não consegue comprar camisas”, ironiza o especialista.
Este negócio, que não para de crescer, funciona muito bem para as marcas, diz Luis Díaz, mas apenas se for bem feito, com as pessoas certas. “[O negócio] é ainda mais eficaz do que a maioria dos anúncios de media digitais, mas funciona só se for bem realizado e não com qualquer pessoa”, explica. O especialista diz, ainda, que a internet está repleta de páginas que permitem que os utilizadores comprem seguidores em qualquer rede social para aumentarem a sua influência e que, muitas vezes, as marcas caem nesses perfis enganosamente.
Por exemplo, sublinha Luis Díaz, com menos de 10 euros pode obter-se 10 mil novos seguidores, mas quem pagar 75 euros consegue acumular 100 mil novos seguidores. Por outro lado, quem pretender ter 10 mil gostos na sua última publicação só tem de despender cerca de 18 euros. Por isso mesmo, muitas vezes as marcas investem em pessoas que parecem reais influencers mas que, no final de contas, são uma fraude e significam apenas perda de dinheiro para as empresas.
Além disso, estudos realizados recentemente dão conta de que os consumidores estão saturados da publicidade que os influencers fazem nas suas redes sociais. Os especialistas explicam que, hoje em dia, confia-se muito mais facilmente em pessoas “anónimas” do que em influencers, já que estes promovem, muitas vezes, produtos que não combinam com o estilo de vida que levam ou com os seus valores. Além disso, quando os consumidores sabem que há dinheiro envolvido, o próprio produto perde credibilidade.
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