Nas primeiras duas páginas do livro sabemos que há uma morte: a de uma menina de sete anos. Arrepio, dúvidas – como? Em que circunstâncias? Quem? E o caminho até esse dia vai-nos sendo desvelado em jeito de confissão (sem querer deixar spoilers: justificada ou não) sob o ponto de vista de Estela Garcia, empregada doméstica interna da família. Mas mais do que uma narrativa em suspense para se perceber o que aconteceu, o livro Limpa, de Alia Trabucco Zerán, torna-se num relato sobre a vivência e a distância entre quem serve e quem é servido. Sobre uma relação que, como diz a narradora, “é anterior a mim, anterior a vocês, muito mais antiga do que a minha mãe e até do que a mãe dela.”
Estela veio de sul, de uma casa de uma só divisão, de um contexto de pobreza, para a capital Santiago do Chile, trabalhar para casa de uma família de classe social alta. Instalada num quarto contíguo à cozinha, assiste à vida em casal, em família, à ligação entre o trio de personagens adultas, num jogo que tem tanto de convencional e estabelecido quanto de desequilibrado.
É o primeiro livro da chilena, nascida em 1983, a ser publicado em Portugal.
