Num tempo saturado de ecrãs, pressas e ruído, há um território próximo que resiste: feito de rios limpos, passos lentos e sabores simples. Está aqui ao lado, mas parece cada vez mais longe. Redescobri-lo é mais do que descanso – é reencontro com a vida real.
Chegados aos dias grandes, e ao tempo em que alguns usufruem de férias, surge a oportunidade de quebrar rotinas e de nos aproximarmos do que parecemos ter esquecido: um quotidiano mais simples e singelo.
Muito para lá da viagem para um lugar exótico que se exige, cada vez mais distância e intensidade, bastam poucos quilómetros para encontrar um rio com água limpa e cantante. Há uma realidade natural, próxima do lugar onde vivemos, que nos está distante no quotidiano e que é vital recuperar.
Nestes infinitos e diversos lugares, a vida oferece-nos um ritmo alheio ao nosso tempo, onde o mais básico dos ciclos, o dia e a noite, nos reconduz aos pequenos movimentos da Natureza, que, estranhamente, apesar de tudo nos rodeia, e a que também pertencemos. É um convite a desacelerar, a baixar a intensidade tecnológica e, quiçá, a espreitar uma harmonia há muito perdida. De facto, muito para lá de castelos, palácios ou museus, que os nossos vizinhos europeus, em geral, têm melhor que nós, o nosso maior património é o natural. É por isto que tantos estrangeiros, e não só, escolhem estes territórios para viver.
Acontece que uma parte significativa deste património está ao nosso alcance, e o bem-viver, essa arte antiga, é simples, não exige muito e revela-se nos pequenos ritmos da Natureza. Mesmo as nossas pequenas cidades, onde o campo entra e está próximo, ainda sentem este conceito de bem-viver, tão essencial e valorizado pelos povos ancestrais. Por aqui, neste espaço, a vida no seu estado mais natural oferece-nos tudo aquilo de que realmente precisamos. Acresce-lhe a harmonia entre espaço e tempo, há muito suspensa da nossa vivência quotidiana.
Se ficarmos apenas pela água, até porque o ano hidrológico foi generoso e tudo o resto gira em torno dela, veremos que em todos os lugares há rios (mais ou menos naturais) e planos de água acessíveis. É quase inacreditável, mas temos centenas de praias fluviais, muitas delas incríveis, com tudo o que se pode desejar, até estacionamento, se for caso disso.
Este é o verdadeiro território “livre de tecnologia”, que nos convida a um tempo irrecusável de esquecimento dos ecrãs e da vida online. Aqui, a sincronia faz-se com a nossa natureza mais profunda e isso é, simultaneamente, prazeroso e terapêutico.
O corpo humano pede, está preparado e necessita de movimento. Experimente caminhar, o exercício mais fácil e natural de todos. Andar sem pressa, sem destino, passo a passo, leva-nos à descoberta de paisagens e pormenores inimagináveis. Não há melhor forma de conhecer um lugar, mesmo uma cidade, do que a pé. Muitas vezes, ao melhor só se chega, ou vive, a pé.
Mas há muito mais. Saborear uma melancia, ou um melão, que ficaram frescos na água corrente do rio, é algo que não se consegue escrever. É um gesto ancestral de ligação entre corpo, alimento e ambiente. A experiência é irrepetível fora do seu contexto, não se embala, não se industrializa.
Andar implica escala humana, atenção ao detalhe, abertura ao imprevisto. O corpo sintoniza-se com o espaço e ganha o tempo necessário: sente o cheiro da terra, escuta o silêncio ou os pássaros, observa o ritmo das estações. Nada disto é transportável nem explicável, apenas é vivido. Quanto vale uma vivência deste tipo?
O mais extraordinário é que experiências assim dependem apenas de nós. A Natureza exige-nos, no essencial, apenas três atitudes simples e fundamentais: sermos responsáveis pelos nossos atos, respeitarmos os outros e cuidarmos da Natureza.
Aproveite o que de melhor, e mais acessível, tem à mão: território, espaço e tempo. Não é preciso mais. A Natureza viva e vivida é a melhor garantia das tão apregoadas regeneração e valorização dos ecossistemas.
Porque espera? A sua escolha faz a diferença.